Procusto representa a intolerância do homem em relação ao seu semelhante.
O mito já foi usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento, como na economia, na política, na educação, na história, na ciência e na administração.
Procusto era um famoso salteador da Ática, antiga região grega que, segundo a tradição, dividia-se em doze estados pelasgos, os primitivos habitantes que povoaram a Grécia e a Itália por volta de 2000-1600 a.C., cujas cidades principais eram Atenas, Pireu e Elêusis.
Sanguinário ao extremo, Procusto não se limitava a assaltar os viajantes que transitavam pelas estradas onde ele exercia sua atividade criminosa, mas também os submetia a um suplício bárbaro: os prisioneiros eram colocados em uma cama, e os de pequena estatura, que não ocupavam toda a extensão do leito, sofriam um processo de estiramento com cordas ligadas a roldanas, para que se adaptassem perfeitamente a ele; já os de tamanho maior, simplesmente tinham as partes que sobravam cortadas a machado.
Os gritos dos mutilados eram ouvidos por toda a Grécia, até que uma deusa decidiu intervir.
Palas Atena, deusa guerreira e símbolo da sabedoria quis saber o que acontecia.
Procrusto justificou seus atos dizendo que agia conforme a justiça e a razão:
“As diferenças são injustas, pois permitem que uns se sobressaiam e subjuguem os demais”.
Convicto, ele afirmou:
“Minhas camas acabam com as diferenças, igualando a todos os homens. Isto é justo. Isto é razoável.”
Palas Atena ficou sem palavras!
Decepcionada, a deusa voltou ao Olimpo.
O silêncio de Palas Atena reforçou a crueldade de Procrusto.
Para ele, aquele silêncio era um sinal de aprovação.
Dessa forma, Procrusto continuava impune eliminando cruelmente as diferenças.
Em seu desvario, enquanto mutilava ele expunha suas razões para cada vítima.
Seu reinado de terror continuou até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu, filho tanto de Egeu, rei de Atenas, quanto de Posêidon, deus do mar, e Etra, filha de Piteus, rei de Troezen que, em sua última aventura, prendeu Procusto lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que inflingia aos seus hóspedes.
Alienado em sua crueldade, Procusto achou que a visita de Teseu fosse amistosa.
Ele se autopromove sem o menor pudor:
“Convenhamos, bravo Teseu, minhas ações são todas muito razoáveis e justas.
Até mesmo a deusa Palas Atena veio me visitar; quando expus minhas razões, caro Teseu, ela simplesmente nao soube o que dizer”.
A resposta de Teseu deu fim aos suplícios de Coridalos:
“Louco! As pessoas são diferentes e cada um tem o direito de ser como é, uns grandes, outros pequenos.
Não é justo igualar os homens, impedindo que cada um seja como é”.
Enquanto ensina um pouco de ética e justiça, Teseu joga Procrusto em uma das camas, submetendo-o ao seu próprio método.
Depois de ter as pernas decepadas, o ex-gigante exclama “eu só estava sendo justo!”.
Teseu quis que o gigante experimentasse o próprio remédio.
Mesmo sem parte das pernas, o corpo ainda estava maior que a cama.
Teseu então ajusta Procrusto à própria cama cortando-lhe a cabeça.
O leito de Procusto é a metáfora da medida única: se sobra, corta; se falta, estica.
De fazer caber em uma única cama o que, por natureza, não tem medida única.
De tornar pessoas de diferentes tamanhos aleijados funcionais.
Extraído do blog: http://luciajardimdasletras.blogspot.com/2010/04/o-mito-de-procusto-o-leito-de-procusto.html
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