· Coutinho Jorge menciona carta á Fliess de Freud, fins de 1897 > “expressa, pela 1 º vez, que algo orgânico desempenha um papel no recalque” > > “é precisamente graças a sexualidade recalcada nos processos de recalque normal que surge uma multiplicidade de processos intelectuais do desenvolvimento – tais como medo, vergonha e coisas similares”
· Freud > isenta a constituição da subjetividade de injunções sócio-históricas > influências acidentais/ambientais cede lugar a fatores constitucionais > guinada rumo ao organicismo > exime a psicanálise da responsabilidade frente aos abusos cometidos contra as crianças pela educação violenta e autoritária e frente as injunções econômicas que permeiam os valores educativos, da produção da doença mental ou mesmo da produção das singularidades > disposição neuropática geral > o recalque independe do ambiente, é um mecanismo estrutural e estruturante > não nos resta outra possibilidade a não ser conviver com o mal – estar, com a destrutividade, com a discriminação social e racial e com a violência contra as crianças como o preço a pagar pela nossa condição civilizada
· Coutinho Jorge sobre Reich: “(...)Lacan veio a precisar tal distinção, mostrando o engodo inerente a concepção reichiana e pontuando não só que o recalque não provem da repressão, como também que a repressão é, ela mesma, um efeito de haver recalque. Decorre precisamente daí o fato de Freud ter sido levado a formular a noção de recalque originário, isto é, de um recalque que antecede tudo e esta na origem mesma da constituição da estrutura do sujeito”
· Reich não desconsidera os processos de recalcamento, mas colocará uma diferença significativa quanto à dinâmica implicada na duplicidade dos sistemas psíquicos (inconsciente e pré consciente/consciente) e na suposta disposição neuropática geral estipulada pelo recalque originário: ambos revelar-se-ão um produto do encouraçamento caracteriologico que deriva de uma certa repressão social original; esta sim, a fonte daquele ‘algo orgânico que desempenha um papel no recalque’
· O recalque é estrutural na medida em que emerge da formação dos traços caracteriológicos e afeta as funções motora, autonômica e cognitiva – em particular a atencional. Freud jamais poderia imaginar que o organismo fosse capaz de assimilar ‘organicamente’, isto é, em termos de memórias de procedimento de tipo inconsciente, as incidências modeladoras exercidas pelo ambiente no interesse da cultura em vigor.
· Reich > o recalcamento é um processo que se desenrola entre o eu e as aspirações do infra eu, e o seu motor é Iac que domina Isex, do conflito entre elas resulta o desenvolvimento psíquico > ênfase ao caráter aberto do aparelho das pulsões – acoplamento estrutural (Maturana&Varela) > no entender de Reich, a psicanálise não pode conceber a criança sem a sociedade > teoria da libido: um organismo em deriva natural, em acoplamento estrutural com o meio, afetando-o e sendo por ele afetado, especialmente no tocante a Isex, dada a sua maior plasticidade (Iac exige satisfação imediata de forma imperiosa e não pode ser recalcada) > o principio de realidade é também atravessado por fatores acidentais > criticas à Freud no fato de tal principio ser apresentado como um dado absoluto: “ Por adaptação à realidade, entende-se simplesmente a adaptação à sociedade(...)” >
· Freud abandona o modelo cientifico-natural em prol de uma posição transcendente e alinhada com as forças sociais hegemônicas: “A investigação cientifica tem demonstrado irrefutavelmente que a atividade psiquica está vinculada à função do cérebro mais do que qualquer outro órgão.(...)Porém, todos os intentos realizados de tentar deduzir de tais fatos uma localização dos processos psíquicos,(...)fracassaram por completo” > abandona o cérebro e o corpo a fim de afastar a importância de fatores acidentais na gênese do conflito psíquico > desenvolve a teoria do recalque em termos metapsicológicos em 1915 > operações de recalcamento necessitam reorientar uma parte do impulso libidinal contra si mesmo
· Reich > deriva do modelo da 1ª tópica a concepção do Ics como uma formação erigida a partir dos traços de caráter e o processo de recalcamento emerge da dinâmica da estrutura caracteriológica, engendrada a partir da dissociação do impulso unitário original.
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