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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Temperamento, subjetividade e energia

Dúvidas que ficaram de ontem:

Temperamento e subjetividade
_Qual a relação entre temperamento e subjetividade?

_Para a PN, a subjetividade está no corpo. E onde está o temperamento?

_Por que o temperamento é imutável? De onde ele vem, o que o compõe e determina?


Energia, paradigma energético, corpo energético
_Ainda não consigo internalizar direito o que é exatamente esse paradigma, o que é o "corpo energético". É possível explicar um pouco mais? Navarro também é orientado pela energia?

_Onde/como/por que se dá o "rompimento" com o paradigma energético na PN?


Acredito que até a próxima quarta comaprtilharei mais dúvidas.

Beijos em todos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entrevista inspiradora

compartilhando uma das matérias mais lindas que já li.
estamos todos vivos?

"MINHAS RAÍZES SÃO AÉREAS"
A travessia de uma psicóloga sem fronteiras que decidiu ver o lado B do mundo

sábado, 9 de abril de 2011

O Principio Econômico em Reich e a Questão da Consciência: (Parte II- pag.77 até pag.91)

·         Quadro 3.2: epistemologia do estado ambivalência – Reich
·         Freud > PM: autonomia da destrutividade em relação à libido > ignora a biologia e a sociologia > isenta o processo civilizitatório de qualquer responsabilidade na produção da destrutividade humana > resignação diante do mal e da injustiça > resta à pressão libidinal tão somente a via progressivamente mais estreita das satisfações parciais e das sublimações mitigadas, cujos efeitos sobre a economia impulsional logo se esvanecem.
·         Reich > irrupção do afeto ligado a um conteúdo ideativo no campo da Cs produzia certo alívio (expressão emocional e eliminação de uma parte da contracatexia pré-consciente) mas não são capazes de operar uma mudança significativa na fonte da energia do sintoma ou do traço de caráter neurótico > “núcleo somático da neurose” > passiveis de acesso mediante uma técnica adequada que alcance o desequilíbrio econômico na base da estrutura > abole as distinções entre psiconeuroses e neuroses atuais > distinção operacional entre as organizações libidinais que viabilizam um funcionamento auto regulado da economia dos impulsos e aquelas que perturbam a auto- regulação econômica -“genital” e  “neurótico” > dois tipos paradigmáticos que constituem a mera descrição formal de posições “puras” localizadas nos extremos do arco das organizações caracterológicas > as estruturas individuais apresentam uma combinação variável de posições e intensidades pré –genitais e genitais que caracterizam a singularidade histórica de cada indivíduo > podem ser mapeadas a partir das características gerais do funcionamento dos tipos básicos > tipologia diagnóstica que permite a formulação de planos/projetos terapêuticos individualizados caso a caso, além de viabilizar o rastreio da evolução de cada tratamento > “caminho Real para a consciência” reabrindo a percepção , a motricidade e a atenção através da reversão das barreiras de caráter , o que confere acesso direto à organização libidinal em curso na atualidade do corpo.
·         Neurociências (Graeff) > transformação do Eu encontra-se em intima relação com a progressiva maturação e entrada em ação das instâncias cognitivas superiores ancorada na atividade das regiões pré-frontais > “segundo sino de alarme” ativado por ameaças simbolicamente codificadas > fonte mais prevalente de ansiedade nas sociedades humanas civilizadas.  
·         “ambiente-natural-culturalmente-informado” em interação mútua com a unidade viva dotada de aparelho psíquico > qualquer condição de acoplamento conflituoso com o ambiente  constitui o fator histórico  que engendra o conteúdo das fantasias inconscientes nele referenciado > a fantasia engendra uma inibição das possibilidades genitais , o que forma a ansiedade por estase > a ansiedade montante anima o conteúdo histórico e reforça as fantasias dele derivadas inibindo ainda mais as operações genitais > causalidade circular simultânea que leva da ansiedade à angustia e desta ao pânico, no domínio somático; e a formações fantasiosas progressivamente mais delirantes, incapacitantes e destrutivas no plano mental > fatores quantitativos na intensidade das fantasias > a estase libidinal pode ser prevenida pelos efeitos da descarga orgástica periódica sobre o conjunto da economia sexual.
·         Neurociências > fator histórico comparece no campo da atividade cognitiva superior que expressa conteúdos no campo da CS, enquanto o fator quantitativo (disfunção autonômica/estase) comparece como a atividade emergente, na rede neural, a partir dos inputs somáticos (Botton-up) que informa e configura os limites e possibilidades atuais do campo de trabalho global da Cs
·         Potência orgástica: "A habilidade em experienciar a entrega completamente involuntária ao orgasmo durante o abraço genital” (Reich)
·         Função do orgasmo: tem a propriedade de esgotar a ansiedade atual do sistema  biológico > ganha um encargo adicional no plano da subjetividade individual que se superpõe àquela simples preservação da espécie no plano coletivo (darwinismo mecanicista) > topdown
·         O aparelho psíquico constitui uma propriedade emergente filogeneticamente evoluída e ancorada na constante flutuação dos parâmetros somáticos de base (2º salto evolucionário) > os novos domínios operam segundo leis e propriedades básicas do domínio que o antecede > a relativa autonomia da vida sexual humana frente às pressões instintuais revela-se não só uma propriedade do novo domínio constituído pelo 2º salto evolucionário como mostra-se tributaria à economia do aparelho psíquico > os humanos encontram-se assim, submetidos a duas ordens igualmente pressionadoras: os instintos naturais e as pressões culturais
·         PN > a carga libidinal pode ser entendida enquanto intensidade de agenciamentos somáticos e ambientais sobre os circuitos cerebrais filogeneticamente antigos, cuja atividade produz padrões emocionais que, ao atingir a consciência, são percebidos subjetivamente como sentimentos (Damasio, Panksepp) > proto-Self  - de filiação mais sensorial e SELF (Simple Ego-Type Life Form)- organizado em torno dos circuitos motores arcaicos > pontos nodais ancestrais de convergência das informações relativas ao corpo e ao ambiente que, uma vez coerentemente organizadas, constituem o substrato neurobiológico do Si primordial (primal Self) – uma istância de localização subcortical muito baixa mas de importância nuclear para o estabelecimento dos estratos superiores do campo da Cs e seus conteúdos  > o estatuto biológico da economia libidinal enquanto modelo hidráulico de carga-descarga ou carga-estase revelar-se-á superado > abordada agora em termos de padrões de competição flutuante entre os diversos Sistemas Emocionais em Operação (SEOs) na origem dos estados emocionais de fundo e seus efeitos sobre as atividades cognitivas, conscientes e inconscientes > o  núcleo atual da estase libidinal será abordado em termos de persistência temporal de um padrão hegemônico de disparo ao nível dos circuitos subcorticais de emoção com predomínio dos SEOs MEDO e RAIVA sobre BUSCA, BRINCADEIRA e EROTISMO (ligados à percepção subjetiva de interesse ativo pelo ambiente, de interações sociais colaborativas e das experiências de prazer erótico e cuidado parental) > a flutuação do protagonismo subcortical entre os diversos SEOs e suas combinações pode afetra o FA > clinica neurodinâmica da subjetividade: instrumentaliza o FA promovendo um alargamento do caminho Real para a Cs.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Mito de Procusto

Procusto representa a intolerância do homem em relação ao seu semelhante.
O mito já foi usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento, como na economia, na política, na educação, na história, na ciência e na administração.

Procusto era um famoso salteador da Ática, antiga região grega que, segundo a tradição, dividia-se em doze estados pelasgos, os primitivos habitantes que povoaram a Grécia e a Itália por volta de 2000-1600 a.C., cujas cidades principais eram Atenas, Pireu e Elêusis.
Sanguinário ao extremo, Procusto não se limitava a assaltar os viajantes que transitavam pelas estradas onde ele exercia sua atividade criminosa, mas também os submetia a um suplício bárbaro: os prisioneiros eram colocados em uma cama, e os de pequena estatura, que não ocupavam toda a extensão do leito, sofriam um processo de estiramento com cordas ligadas a roldanas, para que se adaptassem perfeitamente a ele; já os de tamanho maior, simplesmente tinham as partes que sobravam cortadas a machado.
Os gritos dos mutilados eram ouvidos por toda a Grécia, até que uma deusa decidiu intervir.
Palas Atena, deusa guerreira e símbolo da sabedoria quis saber o que acontecia.
Procrusto justificou seus atos dizendo que agia conforme a justiça e a razão:
“As diferenças são injustas, pois permitem que uns se sobressaiam e subjuguem os demais”.
Convicto, ele afirmou:
“Minhas camas acabam com as diferenças, igualando a todos os homens. Isto é justo. Isto é razoável.”
Palas Atena ficou sem palavras!
Decepcionada, a deusa voltou ao Olimpo.
O silêncio de Palas Atena reforçou a crueldade de Procrusto.
Para ele, aquele silêncio era um sinal de aprovação.
Dessa forma, Procrusto continuava impune eliminando cruelmente as diferenças.
Em seu desvario, enquanto mutilava ele expunha suas razões para cada vítima.
Seu reinado de terror continuou até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu, filho tanto de Egeu, rei de Atenas, quanto de Posêidon, deus do mar, e Etra, filha de Piteus, rei de Troezen que, em sua última aventura, prendeu Procusto lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que inflingia aos seus hóspedes.

Alienado em sua crueldade, Procusto achou que a visita de Teseu fosse amistosa.
Ele se autopromove sem o menor pudor:
“Convenhamos, bravo Teseu, minhas ações são todas muito razoáveis e justas.
Até mesmo a deusa Palas Atena veio me visitar; quando expus minhas razões, caro Teseu, ela simplesmente nao soube o que dizer”.
A resposta de Teseu deu fim aos suplícios de Coridalos:
“Louco! As pessoas são diferentes e cada um tem o direito de ser como é, uns grandes, outros pequenos.
Não é justo igualar os homens, impedindo que cada um seja como é”.
Enquanto ensina um pouco de ética e justiça, Teseu joga Procrusto em uma das camas, submetendo-o ao seu próprio método.
Depois de ter as pernas decepadas, o ex-gigante exclama “eu só estava sendo justo!”.
Teseu quis que o gigante experimentasse o próprio remédio.
Mesmo sem parte das pernas, o corpo ainda estava maior que a cama.
Teseu então ajusta Procrusto à própria cama cortando-lhe a cabeça.















O leito de Procusto é a metáfora da medida única: se sobra, corta; se falta, estica.
De fazer caber em uma única cama o que, por natureza, não tem medida única.
De tornar pessoas de diferentes tamanhos aleijados funcionais.

Extraído do blog: http://luciajardimdasletras.blogspot.com/2010/04/o-mito-de-procusto-o-leito-de-procusto.html

sábado, 2 de abril de 2011

Matéria: Eric Kandel - Folha de SP


O OUTRO GÊNIO DE VIENA Eric Kandel, Nobel de Medicina, conta em livro como Freud o ajudou a desvendar a biologia da memória


 
 
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Flávio de Carvalho Serpa escreve para a “Folha de SP”
O garoto Eric Kandel pilotava um carrinho de brinquedo, presente do aniversário de nove anos, quando soaram as pancadas na porta da casa. Eram nazistas vienenses, assanhados com anexação da Áustria perpetrada por Adolf Hitler em 1938.Os invasores expulsaram os donos da casa e saquearam tudo, até seus brinquedos. “Lembro as pancadas até hoje” escreve Kandel logo nas primeiras linhas do seu livro “Em Busca da Memória”, lançado no mês passado nos EUA (“In Search of Memory: The Emergence of a New Science of Mind”, editora Norton, 510 páginas, U$27.95).
As pancadas na porta ecoavam na cabeça do jovem Kandel décadas depois tão vivamente que ele resolveu dedicar a vida a explorar como um evento tão fugaz podia ficar gravado de maneira tão indelével.Hoje professor da Universidade Columbia, ele foi o primeiro a desvendar a biologia molecular da transformação das coisas vindas dos sentidos, como as batidas na porta no meio da noite, em memória permanente, ganhando com a proeza o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2000.
Em Nova York ele ficou amigo de psicanalistas fugidos do círculo freudiano de Viena. A psicanálise, no auge do seu prestígio, apaixonou o jovem Kandel, que via nela “a revelação para entender os processos mentais inconscientes e o determinismo psíquico”, escreve ele. Mas para ser psicanalista, como pretendia, experimentou passar primeiro pela psiquiatria, que exigia formação médica. Aí encontrou seu grande mentor, o neurofisiologista Harry Grundfest, a quem pediu ingenuamente a orientação para localizar fisicamente no cérebro as regiões do id (inconsciente), ego e superego freudianos. Grundfest pacientemente sugeriu objetivos mais modestos: estudar o cérebro metodicamente, neurônio a neurônio. Foi a grande virada na carreira de Kandel. Dos magistrais modelos e princípios da psicanálise, que explicavam tudo num grande esquema da arquitetura da mente, Kandel mergulhou na heresia intelectual do reducionismo.
A maior parte da filosofia, da psicanálise e até mesmo da psiquiatria da época postulavam que a mente era um fenômeno irredutível a partes mais elementares como as células nervosas. Quando Kandel elegeu seu alvo de pesquisas uma lesma marinha, a Aplisia californica, muitos cientistas torceram o nariz, achando que ele estava perdendo seu tempo com a lesma gigante. Kandel abandonou Freud, mas subiu nos ombros de outro gigante: Charles Darwin. Seu principal argumento é que os mecanismos da natureza são altamente conservados, como havia provado o criador da teoria da evolução. A natureza, argumenta Darwin, não cria novos componentes para novas funções a partir do zero. Ela sempre usa o que já tem para novas habilidades.
Mapa da mente
Metodicamente, Kandel fez a engenharia reversa do sistema nervoso da Aplisia: usando eletrodos e sondas químicas ele e sua equipe montaram o diagrama de quase todas as conexões entre os pouco mais de 40 mil neurônios do animal. Os pesquisadores sabiam exatamente que neurônio deveria ser cutucado para que a lesma disparasse o comportamento de botar ovos, por exemplo.
Mas lesmas, como seres humanos, logo esquecem as coisas se elas não forem realmente importantes. O Nobel foi para a descoberta de como uma memória implícita, inconsciente e passageira, pode se tornar definitiva após várias repetições.As descobertas de Kandel só foram possíveis graças aos refinamentos das tecnologias de bisbilhotagem eletrônica. Mas também só poderiam ter acontecido depois da descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick em 1953. A conexão entre mecanismos genéticos e a formação da memória foi uma descoberta inesperada.
Repressão
Kandel nunca terminou sua formação psicanalítica, apesar da forte carga emocional que o ligara ao círculo freudiano em Nova York. Sua amiga Anna Kris tinha esse nome em homenagem à filha do pai da psicanálise. Ao enveredar para a biologia e para a medicina, começou a ver muitos defeitos na psicanálise.
Ele observa que o próprio Freud tinha delineado “um modelo neuronal de comportamento numa tentativa de desenvolver uma psicologia científica”.
Sigmund iniciou sua carreira como pesquisador em biologia e seu primeiro trabalho científico foi dissecar enguias para descobrir como era a vida sexual delas. Fracasso total: nem Freud nem seus contemporâneos conseguiram ao menos descobrir onde ficavam os órgãos sexuais do bicho.Isso mostra como a instrumentação para o estudo biológico era precária na época.
Mas Freud chegou a intuir a existência das sinapses, as barreiras de troca de informação entre as células nervosas. Não é uma conclusão muito óbvia, pois se concebia a mente, o pensamento e as memórias como coisas fluidas e contínuas. Ele acabou desistindo da tática de atacar o problema de forma reducionista.”
O atraso das ciências do cérebro nos tempos de Freud o levaram a abandonar essa busca e se apoiar num modelo abstrato da mente, a ser encontrado no balanço verbal das experiências subjetivas. Essa dependência tornou-se codificada, em alguns campos, numa dogmática exclusão do processo físico material”, concluiu Kandel.
Negação
À medida que avançava nas suas experiências na América, Kandel finalmente renegou a psicanálise. Assim ele resume sua desilusão no seu novo livro: “Fiquei desapontado ao ver quão pouco progresso a psicanálise tinha feito para se tornar mais empírica no teste de suas idéias… Sentia que a psicanálise estava recuando para uma fase não-científica e, nesse processo, arrastando também a psiquiatria”.
Pior, além de ter esgotado o processo de extrair significados das reclamações dos pacientes, a psicanálise contaminou a psiquiatria e até a medicina com os exageros das idéias de doenças psicossomáticas. “Doenças como a hipertensão, asma, úlceras gástricas começaram a ser encaradas como resultados de conflitos inconscientes.”"Se a psicanálise está satisfeita com sua atual situação, tudo bem” diz.”
Freud será lido como Shakespeare ou Homero, como grande obra de iluminações literárias. Mas se quiser se tornar ciência precisa de uma base empírica. Freud teve inspirações interessantes, algumas das quais agora podem ser testadas pela neurociência. Mas o bebê freudiano não cresceu mais desde 1910″, lamenta.
Apesar disso Kandel ainda considera o edifício freudiano digno de ser levado em conta. Com neurocientistas como António Damásio, Joe LeDoux, Jaak Panksepp, o austríaco ainda se empenha em restaurar o trabalho de Freud participando da Sociedade Internacional de Neuropsicanálise, criada em 2000.
Mas haveria ainda esperanças para uma ressurreição da psicanálise? O próprio Kandel deixa escapar uma razão inconsciente de suas verdadeiras motivações. No último capítulo de seu livro, descreve como ele e sua mulher se tornaram colecionadores inveterados, “para não dizer viciados”, de antigüidades francesas.”
Ao escrever isso começo a suspeitar que fazer essas coleções pode ser uma tentativa de recapturar parte da nossa juventude perdida.”
(Folha de SP, Mais!, 7/5)

Entrevista: Eric Kandel

Eric Kandel

Por Denis Russo Burgierman
Quando, nos anos 60, o psiquiatra Eric Kandel resolveu que ia dedicar seu tempo ao estudo da lesma-do-mar, um molusco tão pegajoso quanto primitivo, seus colegas acharam que ele tinha enlouquecido. Afinal, esse austríaco que migrou para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial jamais tinha manifestado interesse pelo mundo animal. Formado em letras e literatura, além de medicina, ele sempre pareceu mais interessado em desvendar os segredos do homem e, em especial, da mente humana.
Pois foi justamente isso que ele fez nas décadas que passou pesquisando o molusco. No sistema nervoso simples da lesma-do-mar, Kandel identificou os genes e as proteínas que tornam possível a memória nos neurônios. Os mecanismos que ele desvendou são os mesmos que, no cérebro humano, regem as lembranças de curto e longo prazo. Hoje pode-se dizer que quase tudo o que sabemos sobre a base molecular da memória se deve ao molusco e a Kandel.
Não é à toa que ele (Kandel, não o molusco) faturou, em outubro passado, o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. Nesta entrevista à Super, o pesquisador de 71 anos, hoje trabalhando na Universidade Columbia, em Nova York, falou sobre a química da memória, os remédios do futuro e as incríveis novidades que irão mudar a pedagogia e a psicologia.

Super – Tem um poema que eu sei de cor. Quando eu me lembro dele, alguns versos me vêm na forma de imagens visuais, outras na de cheiros, sensações táteis, sonoras. Outros pedaços me trazem lembranças sentimentais ou me recordam de detalhes como, por exemplo, o de que o papel onde li o poema pela primeira vez era azul. Você pode me dizer onde esse poema está no meu cérebro?
O poema está armazenado em vários lugares diferentes. Conforme você o aprende, você visualiza partes dele – partes que provavelmente serão armazenadas em áreas visuais do cérebro. Outras talvez sejam guardadas em regiões ligadas à linguagem, ou nas que lidam com as emoções. Quando você recita o poema, essas diferentes áreas colaboram umas com as outras para formar uma lembrança. Acreditamos que as mesmas áreas responsáveis pelo processamento das informações cuidem das lembranças dessas informações – as áreas visuais são responsáveis pelas memórias visuais, as táteis pelas lembranças táteis e assim por diante. Não há um único "centro da memória" no cérebro, responsável por armazenar tudo.

E de que forma esse poema está guardado na minha mente?
Em grande parte, na forma de mudanças estruturais nos neurônios. A cada vez que aprendemos algo, formam-se novas ligações entre as células, novas sinapses. Seu poema causa mudanças químicas nos neurônios, induz a produção de novas proteínas, suprime outras.

Como é possível pesquisar a memória humana a partir da lesma-do-mar?
Quando comecei não sabíamos absolutamente nada sobre memória. Achei que seria útil começar do começo e, para estudar o caso mais simples, peguei o animal mais simples. Na aplísia, como chamamos a lesma-do-mar, você tem a vantagem de que há poucas células nervosas interconectadas de forma precisa, de modo que é mais fácil estudá-las.

Há muitas diferenças entre o homem e a lesma-do-mar? Temos muitas estruturas que esses animais não têm, ou dispomos do mesmo arsenal nervoso, apenas mais complexo?
Provavelmente temos alguns recursos que a aplísia não tem. Mas, surpreendentemente, nossas pesquisas estão mostrando que muito da diferença deve-se somente ao número maior de células nervosas e de suas interconexões. Nossos neurônios fazem mais ou menos as mesmas coisas – apenas estão em maior quantidade do que os da aplísia.

Pesquisas como a sua revelaram que muitas células no corpo possuem o mesmo mecanismo químico dos neurônios. Você acha que é possível que células fora do cérebro possuam algum tipo de memória?
Nós definimos memória como um resgate de informação sobre o passado que é expresso no comportamento. Os mesmos mecanismos moleculares podem estar envolvidos em mudanças a longo prazo no fígado ou no rim. Não chamaríamos isso de memória, e sim de mudanças adaptativas. Você levanta uma questão interessante: a de que é perfeitamente possível haver um número enorme de mecanismos moleculares para converter um sinal de curto prazo em um sinal de longo prazo. E que talvez o cérebro se utilize de apenas um deles para produzir memória. Talvez as células dos rins, assim como as do cérebro, sejam capazes de receber informações novas e fazer com que essas informações sejam registradas quimicamente. Dessa forma, elas também seriam capazes de um tipo de "aprendizado".

Você descobriu a proteína CREB-1, responsável por converter lembranças de curto prazo em memórias de longo prazo. A indústria farmacêutica não poderia usar essa proteína para fazer um remédio que nos dê uma supermemória?
Provavelmente não, mas acho que aparecerão drogas nos próximos cinco anos que ajudarão pessoas idosas a melhorar um pouco sua memória. Não acho que haverá drogas que farão de mim ou de você um supermemorioso, mas, em breve, as farmácias venderão "aspirinas para a mente".

Há motivos para acreditar que uma droga da supermemória não seja possível?
Antes de mais nada, não sei se seria desejável. Existem pessoas que possuem supermemória e elas tendem a levar uma vida miserável. Os supermemoriosos se lembram de absolutamente tudo, e todos precisamos esquecer algo. Essas pessoas geralmente são pouco criativas – para ser criativo você precisa de espaço na mente. Se você saturou a cabeça com números de telefones, o nome de todas as pessoas que você já encontrou, o nome das ruas pelas quais passou, fica difícil ter idéias. Os supermemoriosos têm a impressão de que seu cérebro está repleto de lixo. Todas as drogas possuem efeitos colaterais e os efeitos colaterais, nesse caso, podem ser piores do que a doença.

Mesmo se for uma supermemória por apenas uma hora, algo que eu tome antes de uma aula de alemão, por exemplo?
Isso seria uma boa idéia. É teoricamente possível, mas não posso prever algo tão distante.

Sua pesquisa pode mudar a psicologia?
Acho que sim. Aprendi uma quantidade enorme de coisas com a psicologia e tenho um respeito enorme por essa disciplina. Não compartilho do preconceito de vários neurocientistas, que a consideram uma pseudociência. Toda a idéia de estudar a memória é uma construção psicológica. Todo o meu trabalho deriva da psicologia. Mas essa ciência se baseava numa descrição do comportamento, sem o conhecimento do que acontece na cabeça. Termos como memória de curto e longo prazo eram conceitos abstratos e agora estamos descobrindo o substrato anatômico e fisiológico para isso. Estamos colocando a psicologia num nível biológico fundamental e, assim, vamos acabar fundindo as duas disciplinas: neurociência e psicologia serão uma coisa só.

Você tem dito também que essas pesquisas poderiam mudar a educação. Como isso aconteceria?
Por exemplo, descobrimos que o treinamento espaçado é melhor que o treinamento em massa. Ou seja, se você aprender as coisas em pequenos episódios separados absorve mais do que em uma longa sessão. Portanto, precisamos ter aulas curtas e com intervalos regulares. Acho que as pessoas ainda podem descobrir muito sobre os aspectos temporais dos eventos do aprendizado. Podemos entender melhor que parte do ciclo sono/vigília é ideal para o aprendizado, como aprender a associar as coisas, quais os tipos de dicas que facilitam a memorização de um poema. A neurociência nos ensinará uma variedade de técnicas para otimizar o armazenamento de informações no cérebro.

drusso@abril.com.br

Fonte: Revista Superinteressante

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Principio Econômico em Reich e a Questão da Consciência: (Parte I- até pag 77)

·         Periodo pré-psicanalitico > Breuer & Freud > sugestão hipnótica como via de acesso a memórias traumáticas >  angustia como decorrência de intercurso sexual insatisfatório ou ausente> método catártico > liberação de afetos estrangulados pela repressão provendo acesso a consciência e sua conseqüente expressão > remissões sintomáticas e de curta duração > insuficiência do método na promoção de mudanças significativas na estrutura psicológica da pessoa > sujeito não se apropriava da experiência vivida > dependência à autoridade do hipnotizador

·         Freud > método de associação de idéias > tornar consciente o significado inconsciente dos sintomas através da interpretação direta dos conteúdos ideativos disfarçados na metalinguagem da atividade mental consciente > limites: o sucesso dependia da disponibilidade do paciente em aceitar as colocações do analista > resistências inconscientes à tomada de consciência relativa a certos aspectos de sua subjetividade > adaptação do método: eliminação das resistências > tomada de consciência  e persistência dos sintomas : os sintomas poderiam desaparecer mas não tinha necessariamente que desaparecer > tomada de consciência como a pré condição indispensável da cura mas não contribuía especificamente para a mesma

·         Reich > “Que outros fatores eram necessários para que o sintoma desaparecesse? Que outras condições decidiam se a tomada de consciência levariam ou não à cura?” > fator econômico por trás da formação do sintoma não se encontra na carga emocional retida no pré-consciente e sim barrado pelas resistências oferecidas pelos traços de caráter > para ele a hipótese freudiana afastava-se cada vez mais do aspecto econômico aportado na 1ª teoria da libido - sem relação com a economia somática dos Isex  (o território somático é concebido como mera fonte de excitações), impulsos descolado do ambiente (o fluxo dos acontecimentos psíquicos e a angustia deixam de se referenciar na antítese básica entre as necessidades e o mundo exterior / recuo apolitico) , o inconsciente é estruturado como linguagem, a pulsão de morte definida como a pulsão por excelência e de origem transcendental, independência das pulsões em relação a metas fixas e o “acaso pulsional” > “Com que impulsos e com que novas relações estamos lidando? Faz alguma diferença com que tipo de estrutura libidinal o paciente deixa a analise? >” relação entre as varias antíteses impulsionais mais do que meramente acidentais, derivadas umas das outras dialeticamente. Trata-se apenas de compreender qual é a antítese original e como o desenvolvimento das antíteses subseqüentes tem lugar”

·         Caso do jovem camareiro tratado por Reich em 1920 > método analítico > Seminário Técnico dirigido por Hitschmann>  ‘exata elucidação da cena traumática primaria’ e ‘exatidão e perfeição do trabalho analítico’ > insatisfação de Reich devido a não remissão dos sintomas ( falta completa de ereção, estoicismo, extrema docilidade e tranqüilidade) > “bloqueio emocional” > a dificuldade central do caso não se encontrava na formação sintomática e sim na própria atitude caracterial (o modo global de ser do individuo) > evolução da técnica/ método reichiano desde a psicanálise convencional à analise do caráter (com a estimulação da livre expressão de impulsos agressivos e hostis) e desta à  vegetoterapia caractero analítica (VCA) >

·         Interpenetração dialética da aparente dualidade da dinâmica impulsional em termos da identidade funcional entre os Iac e Isex > a estrutura de caráter é uma cascata de formações reativas > circuitos básicos de medo/ansiedade – do qual o estado subjetivo da angústia psíquica constitui uma expressão no plano da consciência – priorizam uma escalada de comportamento defensivo que vai da inibição comportamental (freezing) à fuga, e desta à agressão defensiva ( neurociências) > correlatos da pulsão de vida em estado de autopreservação (Iac) e, em ultimo recurso, a agressão defensiva: PM=Iac/Isex; neste caso a agressão defensiva implica em ação alocêntrica (Isex) > formulação freudiana da fusão entre as pulsões de vida e a pulsão de morte? > o estado de ambivalência aparece não como sintoma, mas como efeito da constituição da própria estrutura caracterológica.