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terça-feira, 8 de novembro de 2011

HUMANIDADE EM XEQUE? - Henrique Schützer Del Nero

O campeão mundial de xadrez perde para um computador e a humanidade pensa estar em xeque. Será o xeque-mate? Não, ainda vai demorar algum tempo para que esse risco deva ser levado a sério. O momento é de dirimir dúvidas antropomórficas sobre a emergência de raciocínio e inteligência em máquinas. Para isso, é preciso que entendamos a correta relação entre cérebros e computadores.
A analogia entre o computador Deep Blue e Kasparov é indevida: o primeiro faz milhões de cálculos por segundo, usando uma lógica digital (sim ou não, 0 ou 1); o segundo utiliza uma forma analógica de processamento (todas as gravações possíveis entre um número e o outro, incluindo aí o 0 e o 1).
O processamento analógico somado à simultaneidade de múltiplos canais dota o cérebro de capacidades insuspeitáveis a Deep Blue. O digital, somado à velocidade do chip de sílica, é capaz de nos derrotar no xadrez. Nas metáforas, alegorias, cenários complexos e, sobretudo, na capacidade de engendrar sociedade e moral, ainda não.
Algumas dicotomias são fundamentais para que se entenda a diferença entre o cérebro humano, dotado de mente e personalidade, e o computador Deep Blue. Deep Blue tem um conjunto harmônico de
processadores centrais comandando suas operações; Kasparov não tem qualquer sucedâneo de controlador central. Deep Blue tem memórias com endereços claros, sensíveis à destruição por qualquer curto-circuito; Kasparov tem memórias distribuídas por grande parte de seu cérebro, o que faz com que resista ao envelhecimento sem que com isso se apaguem arquivos inteiros e se percam referências vitais. 
Deep Blue não aprende, não tem infância, não interage com os outros e não descobre a mentira como artificie da separação entre o mundo interior do desejo e o exterior da repressão; Kasparov aprende e se organiza de acordo com a experiência pretérita, sua e de sua cultura. 
Deep Blue opera através de um programa, em que pese programa sofisticado que permite a harmonização sincrônica dos múltiplos processadores (pseudo-noção de processamento paralelo, tecnicamente chamada de processamento cooperativo), mais ainda assim software; Kasparov tem processamento paralelo legítimo, sem controlador central, operando sem software bem delimitado - no cérebro tanto software quanto hardware se mesclam numa só operação de oscilação e sincronização de neurônios.
Só existe mente quando, ao perigo de falhar no cálculo, se acrescenta o perigo de falhar na expectativa depositada sobre si. Essa carga humana, ainda hoje dificilmente reproduzível em máquinas. As emoções e a
vontade, propriedades inimagináveis a Deep Blue, coroam e colorem a nossa espécie. Enquanto a máquina não as tiver será apenas uma traquitana sem inteligência genuína. 
Deep Blue não tem estilo; Kasparov tem estilo;  
Deep Blue não tem humor; Kasparov não voltará a ter tão cedo.
Problema técnico suplementar advém da natureza digital-formal de Deep Blue. Como quase todos os sistema desse tipo, está sujeito à parada (isso é tecnicamente conhecido como problema de indecidibilidade de
gödeliana e parada de uma máquina de Turing, espécie de computador teórico ideal, infinitas vezes superior a Deep Blue) fato que o impedirá de decidir sobre o passo seguinte ou sobre a verdade ou falsidade de uma sentença.  
A consciência humana, ponto nodal da mente que emerge do cérebro, não exibe “parada” diante de determinados problemas em que Deep Blue entraria em looping (vulgo “parafuso”). Isso advém da natureza analógica do processamento cerebral como querem ou talvez - segundo os mais afoitos cientificamente -
de sua natureza quântica e não-algorítmica (isto é, não calçada no seguir regras estritas, bem delimitadas e seqüenciais de operação).
Um computador ou qualquer máquina que um dia seja programada com o código analógico que utilizamos talvez seja capaz de crescer, aprender, inserir-se na comunidade e agir como nós. Para isso a máquina não
será programada nem terá a velocidade do computador da IBM; sua inteligência não será programa que avalie exaustivamente a hipótese já pronta, mas algo capaz de criar teorias a partir de um pouco, testando-as
transformando-as em conhecimento legítimo. 
Um computador que precisa percorrer o planeta inteiro inspecionando cada gato, cortando-o em fatias e
decompondo-o ao limite, nem por isso será capaz de entender a graça e o humor do desenho simples do gato Garfield comedor de lasanhas. Deep Blue dificilmente entende metáforas e nós rapidamente as entendemos.  
Afinal, a mente que surge da comunhão dos neurônios não é substância imaterial, espírito ou alma. É antes de tudo uma propriedade da matéria física cérebro em contato com a linguagem e a cultura.
Dota-se uma máquina do correto código cerebral, fazendo-a interagir dinamicamente com outras, quer na ação pura, quer na ação valorada e prudente, e teremos uma réplica do humano. Porém, não se assustem aqueles que vêem nessa possibilidade o final dos tempos. Não sabemos ainda qual o código analógico que o cérebro utiliza na forja do mental e nem temos máquinas que o repliquem na totalidade. 
A tarefa de estudar esse código, de compreender o surgimento do pensamento, da inteligência, da emoção, da vontade, da memória, criando-lhes análogos artificiais que nos auxiliem em diferentes tarefas é função da ciência cognitiva, super disciplina com quase 50 anos de idade no Primeiro Mundo, mas no Brasil ainda vista com um certo desdém.
Quando não é entendida como um fenômeno biológico localizado no cérebro humano, a mente fica acuada como Kasparov na sexta e última partida da disputa com Deep Blue. Essa incompreensão gera um sem-número de flancos para a proliferação do esoterismo desenfreado, para os manuais de auto-ajuda, para a irracionalidade que campeia e de que se servem os ignorantes e também os arrivistas que vendem bem-estar e salvação para a mente que sofre.
Gera ainda subproduto danoso que é a não aceitação de que a mente, como qualquer função do corpo pode adoecer. Nesse sentido, a figura emblemática de Deep Blue, antes de sitiar a condição humana, pode resgatá-la do desvario pseudo místico, recolocando a mente no cérebro e o conhecimento sobre eles no
devido lugar, menos devassado aos “achismos” dos esotéricos afoitos, encantados com barroquismos lingüísticos pseudo-significativos.
O xeque imposto à condição humana com conseqüência mais danosa que o desconhecimento da natureza cerebral da mente normal e desviada é a perda de valores claros na relações sociais. Sabe-se hoje que a ética e a solidariedade, antes de imposições externas, sociais ou religiosas, são atributos biológicos. Os macacos as têm; também animais inferiores. Computadores, por ora, nem sequer a esboçam, demonstração clara do quanto seus projetistas pretendem resolver problemas, porém nem de longe semelhantes aos dilemas
humanos. 
Será que nós, que somos o ponto apical da biologia do ser vivo, vamos deixar que o sistema econômico e político dos dia de hoje nos faça pensar que a mente é apenas algo forjado para dissimular, esconder, auto-emancipar, esquecendo-nos da solidariedade e respeito com o semelhante?
A mente e a humanidade estão em xeque se não entendermos que o cérebro cria a consciência individual e a coletiva (o computador joga xadrez mas não há ninguém que lhe ouse imputar a consciência ). Da interação entre as consciências pode surgir uma comunidade de deveres e direitos pleno, com alguma justiça que preserve a todos. Do contrário, serão a barbárie e a aniquilação. 
Não estamos em xeque pela máquina digital. Seremos um dia replicados em máquinas e espero que elas não pratique o jogo no qual temos demonstrado habilidade infinita: a hipocrisia e o descaso com o semelhante que
anda à mingua desempregado e excluído. 
Mas é preciso cuidado, pois os computadores que surgirem dessa época de individualismo desenfreado
poderão também saber jogar pôquer - blefando inclusive - e o jogo poderá ser desigual. Podem surgir tiranos nunca dantes vistos entre as máquinas, tais como já vimos surgir entre os seres humanos.
O problema deste final de milênio não reside na replicação e execução de funções mentais por computadores, fato que cedo ou tarde ocorrerá.
Reside, outrossim, no modelo de ser humano e sociedade com que
recepcionaremos essa nova classe artificial de convivas do circo social.


http://www.din.uem.br/~ia/maquinas/henrique.htm




A MENTE SITIADA- Henrique Schützer Del Nero (IEA-USP)

Uma psicologia séria, em tempos de mercado soberano, pode tornar-se refém de um dilema: adular o público, ainda
que com teorias forçadas, às vezes mentirosas, ou elevar o nível, correndo o risco de não ser ouvida. O consumidor,
esse tiranete que escolhe o que lhe apraz, agora é fórum de decisão sobre o rigor e a precisão da informação. A
satisfação do cliente pode em certos casos levar à adulteração ou à maquiagem do produto. Adulteração, quando se
vendem inverdades sob a aura de ciência. Maquiagem, quando se vende o óbvio, travestido de novidade de última
geração. Ou bem entendemos que a lógica do mercado admite até mesmo a mentira, ou reformulamos alguns dogmas
acerca do compromisso com formação e educação. Talvez tudo não passe de efeito colateral da sociedade livre:
pluralismo ou tentativa de conciliar, sob a aura de igualdade, o inconciliável.
A mente que se vende por ai lembra televisão sem circuito e com duendes mágicos que protagonizam os espetáculos.
Essa mente parece não ter cérebro a lhe dar suporte - pelo menos cérebro como entende a ciência e não como
propalam seus mistificadores -, não adoece e pode o que quiser, desde que mentalize, tome vitaminas e consuma
baboseiras. Uma ciência do mental pode, por ora, afirmar que há um recrutamento dinâmico de populações de células
- neurônios - que, dada a complexidade do processamento dos sinais elétricos, sincronizam em diferentes freqüências.
Tal fosse o comitê de uma empresa, a mente não é um departamento alojado neste ou naquele pedaço do cérebro; é um modo de reunião, em diferentes locais, que valoriza a regra de convocação - código neural - e não qualquer elemento que tivesse assento estável no comitê. Por isso é cérebro e não é, na medida em que se podem substituir os integrantes de cada comissão, desde que respeitada a lógica da convocação. Sem isso não haveria reabilitação neurológica epsiquiátrica. Tampouco haveria distúrbio ou lógica.
As empresas também precisam de saúde mental? Claro, perdem-se bilhões de dólares por ano somente com depressão,
sobretudo devido à perda de produtividade. Mas em lugar de chamar o especialista, compra-se um modismo para
"levantar o moral do pessoal". Seria bom, se não fosse péssimo. Bom, porque não faz mal dizer obviedades. Mal,
porque faz muito mal dizer obviedades.
A mente é um produto do cérebro. São bilhões de neurônios e trilhões de conexões. Vai daí que deve apresentar
algumas limitações e algumas desregulagens. Seria bom dizer que a mente é fantástica, mas é muito ruim dizer que
pode o que quiser. Seria bom dizer que presume um equilíbrio entre o pensamento, a emoção e a vontade, mas é muito ruim batizar equilíbrio, harmonia e educação como “inteligência emocional”. Faz mal dizer obviedades porque a tirania se impõe não pelo que afirma, mas pelo que omite.
Ciência séria quase não dá manchete, mas o público a venera quando liga o celular ou quando experimenta o mictório
com descarga acionada por célula fotoelétrica. Ama-se a tecnologia, braço menos nobre da ciência. Menos nobre
porque comprometido com o imediato, com o prático, com o lucro e com o retorno fácil. Ciência é estrutura;
tecnologia é conjuntura. Mas numa sociedade de agrado ao consumidor a conjuntura precede e determina a estrutura.
Falar de uma mente que permanece refém do discurso do espírito nos últimos séculos, situá-la no cérebro, dizer que
tem limites, que pode adoecer, isso não faz sucesso. Ao contrário, recheá-la de misticismo, duendes, anjos, esoterismo,
vitaminas, vida natural, amor (embora não ao próximo, nem aos excluídos), vidas passadas e outras tantas coisas
vende aos montes.
Tiranizados por alguns sábios do mercado livre e da sabedoria, resta-nos, para falar da mente, de seu sítio cerebral e
de seu poder, limites, anomalia e remédio, mantê-la trancada na pequena reunião de iniciados acadêmicos. Pena. Com
isso perdem o público que não se submete a abandonar velhos preconceitos; a imprensa que apenas informa,
atravessadora passiva de informação que deveria interpretar e discutir; a sociedade, enfim, que poderia aprender
algumas lições.
Primeira lição: desconfie dos milagres que se apregoam acerca da mente e do cérebro. Embora tenhamos ido longe,
nossa ignorância científica é maior do que pensam aqueles que se encantam com qualquer best-seller. Sabe-se muito
mais do que a mente não é capaz que daquilo que é capaz. Quem conhece boa ciência sabe que é melhor procurar cisne preto para derrubar a afirmação de que todos os cisnes são brancos. Quem se encanta com truísmos vive
exclamando e cortejando gente que diz que cisnes são brancos e cada ano mostra um para confirmar a teoria.
Segunda lição: entender a relação da mente com o cérebro, a complexa articulação que propiciou que surgissem
linguagem, sociedade, sujeito público e privado e, no cume disso tudo, moral, requer caminho tortuoso.
Terceira lição: a satisfação não é o melhor critério para testar teorias, como não o é mostrar o cisne branco. Quando
lançamos hipóteses científicas importa tanto o que se afirma quanto o que se nega, e em que condições. Uma mente
ilimitada não é mente, é mágica.
Quarta lição: se vamos formar alguém e ao mesmo tempo ter nesse alguém um julgador impiedoso, balizando nossa
atitude pela sua satisfação, então não eduque mais os filhos, não reprove mais o mau aluno e, por favor, somente dê
ouvidos à vizinha e ao clamor das ruas, ainda que esse clamor peça pela quiromante, pela caça ao boi gordo no pasto e
pela volta da ditadura.
Quinta lição: afora distúrbios mentais que devem ser precocemente diagnosticados e tratados, não há nenhum
conhecimento sólido sobre cérebro e mente que possa ser vendido na porta da empresa, da escola ou da sua casa, sem
que haja uma forte dose de oportunismo em jogo.
Desconfie quando alguém falar da mente e não citar, ato contínuo, sua natureza cerebral, suas limitações como
qualquer órgão físico, sua capacidade de comunicação e, pasme, o fato de estar no cérebro animal a origem funcional
do comportamento ético, não sendo mero fruto de época, "coisa de nossos avós" diria o enricado sem escrúpulos.
Alguns autores bem sucedidos, disputados a tapa pelas editoras e por uma mídia nem sempre coerente, gostam de falar
de uma mente que é apanágio de sucesso pessoal. Outros poucos, menos lidos, mais áridos, procuram lembrar que a
mente nasceu de um cérebro que está num animal mais frágil de corpo que a raposa e o tubarão, criança pequena de
tão longa gestação e infância, mas que pela razão e pela reunião solidária pode fazer vingar a espécie humana.

HENRIQUE SCHÜTZER DEL NERO é médico psiquiatra formado pela USP. Bacharel e Mestre em Filosofia pela
USP. Doutorando do Depto.de Engenharia Eletrônica da POLI-USP. Coordenador do Grupo de Ciência Cognitiva do
Instituto de Estudos Avançados da USP.Atividade em consultório privado de psiquiatria e psicoterapia há 13 anos.
Regularmente faz palastras e escreve textos sobre ansiedade e distúrbios emocionais para os alunos do Anglo
Vestibulares. É autor de O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano", com lançamento
previsto para março pela Collegium Cognitio e de O Equilíbrio Necessário, Editora Scippione, com lançamento
previsto para o 2osemestre. Tem mais de 35 trabalhos publicados em congressos e revistas técnicas nacionais e
estrangeiras sobre modelos interdisciplinares de mente e cérebro

http://www.lsi.usp.br/~hdelnero/Gazeta1.html[27/11/2009 17:52:47]

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

LINGUAGEM E CORPOREIDADE: UMA PERSPECTIVA NEURODINÂMICA - José Ignácio Tavares Xavier


O paradigma conexionista atualmente em desenvolvimento na linguística, na filosofia,
na psicologia e nas neurociências permite a recuperação de um aspecto-chave da produção
teórica de Wilhelm Reich no seu período pré-orgonômico. O autor propõe uma releitura do
conceito de unidade somatopsíquica valendo-se das noções de esquema corporal e de imagem
corporal de Head a partir da articulação destes aspectos com o arco intencional de MerleauPonty (Gallagher, 1998), o que desemboca num modelo de produção da singularidade pessoal
de onde derivam a constituição da mente e da linguagem conforme o paradigma conexionista
apresentado por Lakoff e Johnson (1980). O resultado parece corroborar o acerto dos
desenvolvimentos reichianos relativamente às complexas interrelações entre corporeidade e
linguagem numa perspectiva monista. Futuras modificações na teoria e na técnica das
psicoterapias corporais poderão emergir a partir desse novo paradigma.

Link: http://www.ufrrj.br/seminariopsi/2010/boletim2010-1/xavier.pdf

Processos emergentes. Causalidade ascendente. Causalidade descendente. (até pag.292).

A urgência de uma distinção entre as formas afetiva e cognitiva da consciência reclamada por Panksepp é importante não apenas para que a organização do SNC ganhe sentido mas, principalmente, para que a compreensão dos fundamentos neurodinamicos da psicopatologia possa produzir novos e consistentes conhecimentos sobre a emergência dos distúrbios mentais e que novas estratégias de tratamento - tanto farmacológicas como psicoterápicas - possam ser disponibilizadas


Thompson e Varela > propõe uma via causal de mão dupla entre os estados de consciência encarnados e a atividade local dos agrupamentos neuronais > os processos subjacentes ao campo da consciência expressam a atividade integrada das redes neurais de grande escala

O mecanismo mais plausível para a integração de grande escala consiste na formação de elos neurodinamicos mediados pela sincronização fugaz de múltiplas faixas de freqüência > presença de padrões de atividade neural na faixa theta-gama - 6 à 80Hz > a sincronia é entendida como um processo de fechamento de fase > duas escalas deste fenômeno podem ser identificadas: 1. fechamento de fase de longo alcance - rastreadas durante o engajamento em atividades cognitivas e expressam-se como atividade gama que emerge entre 200 a 260mseg após a apresentação do estimulo - e 2. fechamento de fase de curto alcance ( ligadura perceptual/ perceptual binding ) > o estudo de Rodriguez observou que o fechamento de fase é seguido de um período de perda maciça da sincronização neural, o que segundo Thompson e Varela “pode refletir um processo de dessincronização ativa, necessário à transição entre diferentes arranjos neurais sincrônicos” que caracteriza o fluxo da variação da atividade cognitiva em termos de padrão neurais de larga escala > relação com o “caso Miriam”

Koppel > os processos acima descritos constituem o paradigma exemplar da auto-organização em termos de redes de osciladores não lineares > os processos emergentes constituem “comportamentos coletivos de grandes conjuntos (neuronais) nos quais a interação dos feedbacks positivos e negativos dão origem a conseqüências desproporcionais (não-lineares) > podem se dar de 2 modos distintos, porém simultâneos e complementares:

Causalidade ascendente / L ®G / botton- up : emergem como resultado da atividade local e apresentam suas próprias características, duração temporal e domínios de interação;

Causalidade descendente / G ®L / top-down : características locais do sistema governam ou constrangem as interações locais.


Os efeitos descendentes apresentam uma forma diferente dos efeitos ascendentes, manifestando-se tipicamente, através de modificações dos parâmetros de controle e das condições de fronteira

PN > o efeito-moldura emergente da instauração dos traços de caráter constitui um evento de tipo descendente - ancorado nos sistemas de memórias de procedimento - que afeta o comportamento coletivo da rede de neurônios na medida em que o conjunto da estrutura caracterologica engendra parâmetros de ordem que restringem a faixa de flutuação dos componentes individuais da rede > entretanto, o comportamento dos componentes individuais gera e sustenta parâmetros de ordem, o que configura uma interpenetração dialética entre os processos ascendentes e descendentes que desemboca numa causalidade de tipo circular, porém assimetrica

MeSAs > partiria de um acionamento periférico que instiga a oscilação de parâmetros de ordem locais, cujo efeito se espraia pela rede produzindo uma variação nas condições de causalidade ascendente

As interações verbais e não-verbais entre a dupla terapeuta- paciente constituiriam a fração de causalidade descendente na neurodinamica do processo terapêutico

Dimensões da corporeidade (embodiment) > os 3 ciclos de operação: 1.regulação organismica, 2.acoplamento sensório-motor “o que o organismo sente é uma função do modo como ele se move, e o modo como ele se move é uma função daquilo que ele sente” (Thompson e Varella) e 3. Interação intersubjetiva > são simultâneos, mutuamente infiltrados e se apresentam em constante flutuação de parâmetros. Entretanto, eles também exibem uma certa estabilidade de fundo no nosso modo de operação, o que permite que nos reconheçamos e que sejamos reconhecidos pelos demais. Esta estabilidade nos é conferida em parte pela dotação genética e em parte pelas memórias das experiências ambientais precoces

A organização subjetiva do adulto emerge das memórias de procedimento esculpidas ao longo das interações ambientais infantis primitivas, e os acoplamentos sensoriomotores com o ambiente afetam tanto os processos emocionais como os conteúdos cognitivos

PN & Reich > conteúdo histórico da psiconeurose acoplado a ansiedade atual > o conteúdo psíquico expressaria a atividade em curso nas áreas cognitivas superiores; o que afeta os estados do corpo e limita os parâmetros de flutuação dos 3 ciclos da corporeidade ( G®L)> do ponto de vista emocional, a ansiedade atual emerge da atividade sustentada dos circuitos emocionais subcorticais; o que compele os conteúdos cognitivos a gravitar em torno a um dado pano de fundo emocional (L®G) > tem então uma condição de causalidade circular, porem assimétrica, ou causalidade recíproca nos termos de Thompson e Varella. > no plano individual, a barreira de contato erigida pela estrutura manifesta-se por um padrão de contato atencional com a realidade pautado por padrões resistentes das experiências traumáticas no passado (contato substitutivo). Assim,estados sustentados de pequenos traumas cotidianos cronificados/acumulados parecem estar na origem da formação da couraça > figura 5.3



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sistemas Emocionais. O medo, a couraça e o sentido de Si. (pag 240-260)

Segundo Darwin, os 1ºs esforços na na direção do estudo das emoções forma feitos por Charles Bell em sua Anatomia e Filosofia da Expressão


Darwin > aponta para a universalidade das expressões emocionais e anuncia os 3 princípios fundamentais responsáveis pelas expressões emocionais e gestos involuntários nos homens e animais > 1º - força do habito; 2º - principio da antítese e 3º - ação direta do sistema nervoso.

Até a década de 60 as expressões faciais eram consideradas meros signos arbitrários, que a criança aprendia. Conforme suas caretas fossem recompensadas ou punidas ( PINKER 1997p.365) > Paul Eckman apresenta os 1ºs resultados de seus estudos sobre a universalidade das expressões emocionais > Eibl-Eibesfeldt, da década seguinte, demonstra a existência de universais das expressões emocionais em crianças cegas e surdas desde o nascimento, evidenciando a existência de uma plataforma neurobiológica das emoções independente da experiência.

Tanto a tradição behaviorista como a tradição metapsicológica freudiana dominaram o sec.XX, eclipsando a perspectiva oferecida pelas teses reichianas `a compreensão do sofrimento subjetivo > sustentaram uma atitude que colocava os temas subjetivos fora do alcance do inquérito cientifico, ao contrario da posição adotada por Reich

Hipótese reichiana > sugeria que os agenciamentos corporais e os regramentos ambientais das emoções engendravam um modelo prevalente de operação do sujeito psíquico que embotava sua capacidade criativa e tornava-o dócil e adaptado às exigências de uma sociedade organizada de modo contrario aos seus legítimos interesses biológicos e sociais > levantava questões filosóficas e sociais de difícil resolução empírica : problema mente-corpo, questionamento dos princípios e valores educacionais do paradigma pedagógico vigente e as distorções impostas pelas relações de poder econômico sobre a vida amorosa e a organização familiar, sobre a formação de valores éticos, sobre a vida sexual das novas gerações e sobre a organização geral da sociedade.

PN > Reich toma o bonde errado da orgonomia sem cérebro > neurociência contemporânea vem pavimentando o caminho para as concepções que contemplam o papel do corpo na produção das emoções e da consciência, remetendo a sua regulação ao SNC.

Dificuldade na construção de uma classificação consensual e discriminada entre estados emocionais primários ( invariantes neurobiológicos) e secundários ( combinações das emoções primarias que apresenta variações conforme a cultura ).

Afinal, o que é uma emoção?

LENT > “é uma experiência subjetiva acompanhada de manifestações fisiológicas detectáveis”

DAMASIO > “conjunto complexos de reações químicas e neurais formando um padrão(neural)” > exercem algum tipo de papel regulador > ligados à experiência de Si que se seguem aos eventos desencadeadores de emoções > elo de ligação entre as experiências vividas pelo o organismo e o sentido de Si > os estados de humor expressam a atividade dos sentimentos de fundo e encontram-se na origem do sentido de Si > estados do corpo que ocorrem entre as emoções e que “constituem o sentimento da própria vida, a sensação de existir” > essencial para a conceituação de proto-self e seu papel na produção da consciência central

PANKSEPP > “Quando poderosas ondas de afeto suplantam nosso sentido de nós mesmos no mundo, dizemos que estamos experimentando uma emoção” > leva em conta as suas funções adaptativas e integrativas em termos do SNC, superando as meras descrições de suas manifestações exteriores ou limitando as suas causas a eventos ambientais

REICH > as emoções- em especial o erotismo genital com sentimento amoroso ou potencia orgástica, isto é: o amor - apresentam uma propriedade adicional: a de fazer com que a auto-regulação da economia se mantenha em níveis de integridade para a saúde física e mental do individuo.

NAVARRO > revela a importância do substrato neurobiológico para a clinica corpora lista ao observar que as emoções constituem um fenômeno vital de respostas a estímulos externos e/ou internos





Corpo, emoções e consciência constituem uma espécie de unidade de ressonância que ancora o sentido de Si como eixo ordenador da mandala da experiência

Em condições normais a atividade cognitiva prepondera sobre o pano de fundo emocional, mas, diante de acontecimentos que provocam estados emocionais “cheios”, a atividade subcortical assume a hegemonia e os conteúdos cognitivos ficam subsumidos ao panorama emocional em vigor

A definição utilitária das emoções como eventos desencadeados por acontecimentos ambientais e cuja finalidade é habilitar o organismo a reagir adequadamente às injunções ambientais mostra-se satisfatória apenas enquanto um descritor evolucionário para as emoções, não dando conta de aspectos importantes relativos a implicação dos sistemas emocionais na produção da subjetividade

PN > a perspectiva neuro- evolucionaria que emerge do atual debate neurobiológico permite ( sem que se incorra em reducionismo neurobiológico, como poderia parecer à primeira vista) a superação das interdições colocadas tanto pelo behaviorismo como pelo paradigma metapsicológico quanto ao papel do corpo e das emoções e das emoções na produção da subjetividade > reputa as emoções como uma extensão refinada dos comportamentos instintivos básicos, produzida ao longo da evolução filogenética da espécie habilitando os mamíferos a uma maior flexibilidade comportamental, o que abarca o cuidado com a prole e a possibilidade de experimentar subjetivamente estados emocionais > relação entre sentimentos de fundo e a abordagem reichiana que procura, através da fenomenologia somática dos traços de caráter, detectar a condição de base subjacente à neurose > considera a estrutura de caráter como o conjunto das memórias operacionais inconscientes dos acoplamentos infantis entre os impulsos e o ambiente > corresponde em grande medida ao que Damasio denomina de memória autobiográfica, com a diferença que o efeito-moldura da estrutura caracterológica se expressa em termos de memórias não declaratórias

Os processos emocionais básicos podem ser estudados em animais de laboratório e, dada a grande homologia interespécies observada nos cérebros mamíferos, infere-se que as emoções e os sentimentos ( embora não seus correlatos cognitivos) emergem extensivamente dos processos neurais subcorticais

MacLean > hipotetizou 3 domínios distintos na constituição do sistema nervoso humano > cérebro tri-uno constituído por estratos responsáveis pelas ações instintivas (cérebro reptiliano), pela produção de emoções (cérebro límbico) e pelas atividades cognitivas de ordem superior (neocórtex) > revela-se atualmente superado pelo modelo de sistemas dinâmicos complexos não lineares das operações da rede neural >

Recodificação: a experiência dos afetos estaria na dependência de algum tipo de recodificação ( a re-representação defendida pela psicanálise, como se viu em Garcia-Roza) da informação instintual primitiva nas regiões cognitivas superiores, em particular naquelas de exclusividade humana x top down: perspectiva neuro-evolucionária ( LeDoux e Rolls); responde pela singularidade da experiência humana; quem cria as emoções é a evolução e não o aprendizado; mas os conteúdos cognitivos que as acompanham dependem da atividade de áreas superiores do cérebro exclusivamente humanas - as extensas áreas do córtex frontal dorso-lateral que respondem pela memória de trabalho de ordem superior ou as funções de re-representação simbólica e as capacidades lingüísticas do cérebro humano - e encontram-se, portanto, na dependência das experiências ambientais, aí incluídas as experiências ou atos de linguagem.

PN > os mandatos regulatórios do comportamento social incidem sobre a plataforma biológica emocional filogeneticamente estabelecida formando as memórias operacionais / traços de caráter que transtornam o funcionamento da rede complexa constituída pelo continuum funcional entre os módulos cognitivos corticais, as alças de mão dupla córtico-subcórtico-corticais e os SEOs ( sistemas emocionais subcorticais com projeções às áreas corticais superiores cujos padrões de coerência respondem pela experiência comportamental e subjetiva de diferentes estados emocionais) de inscrição primariamente subcortical >

Reich e Navarro consideram o medo - força impulsional - consciente ou inconsciente da punição como a emoção fundadora das defesas estruturais > um alinhamento com a concepção científico-natural na base dos dinamismos defensivos da barreira narcísica, erigida às custas dos traços de caráter > ênfase no medo em face de sua centralidade na produção da estrutura caracterológica > esta aposta foi abandonada por ambos em favor de um paradigma energético de viés genérico e reducionista, que esvazia a possibilidade de uma reflexão mais consistente sobre o complexo e multifacetado efeito clinico introduzido pela experiência corporal na clinica da subjetividade.

Panksepp > estudos de estimulação cerebral há tempos sugerem a existência de um sistema operacional -conjunto de estruturas e rotas cerebrais diversas operando num padrão coerente- para o medo > os diversos SEOs identificados em modelos animais correspondem satisfatoriamente ao que se conhece genericamente como sistemas emocionais básicos humanos ou affect programs > “podem atuar, em termos de desenvolvimento, como sistemas atiradores dinâmicos, que se tornam maiores, mais complexos e mais sofisticados à medida que atraem diversas estruturas cognitivas para as suas esferas de influencia” > “quanto maior a esfera de influencia das emoções positivas, mais se espera que a criança se torne um membro socialmente ativo e produtivo”

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Atualidade do Método PN - Princ.Gerais.

Luria: 1927; sugeria que “a psicoterapia adotasse uma abordagem ‘neurodinâmica’, pretendendo desta forma realizar o desejo inicial, posteriormente abandonado por Freud, de integrar psicanálise e neurologia ”( Haldane 2004)

1999 - criação da Sociedade Internacional de Neuropsicanalise. Formada por psicanalistas e neurocientistas.

Haldane: negligencia a Reich é surpreendente, mas não de todo; pois embora Reich tenha se concentrado mais que Freud no estudo do sist. nervoso e o seu trabalho apresentasse uma importante base biofísica e neurológica, este caminho fora abandonado a partir do “momento em que ele contraiu o micróbio da ‘energia orgânica’ ” > reputa o momento atual como apropriado para a criação de uma psicoterapia neurodinâmica contemporânea junto com o melhor dos métodos reichianos e pós-reichianos

Cozzolinno: cita inúmeras evidencias demonstrando que os danos causados à rede neural por estresse ou trauma podem ser recuperados tanto por meio de psicoterapia como através de intervenções farmacológicas > tanto a relação com o terapeuta como o ato de despertar a atenção do paciente para áreas negligenciadas de sua experiência provocam mudanças no cérebro > “as defesas precoces tomam forma em todos os níveis do sist. Nervoso,(...). As defesas identificadas por Reich refletem memória emocionais das experiências pré-verbais primitivas que se encontram armazenadas nas redes das memórias sensoriais, motoras e emocionais precoces” > a compreensão intelectual de um problema psicológico não resulta em mudança se ela não vier acompanhada de uma maior integração com as emoções, com as sensações e com o comportamento > a evocação da emoção acoplada à atenção consciente é o que mais parece resultar em redução de sintomas e crescimento pessoal

Hebb: “ neurônios que disparam juntos permanecem unidos, neurônios que disparam em separado perdem o contato”

A ponte integrativa entre a neurofisiologia e a psicanálise, em construção por Reich, foi abandonada em favor do viés energético, o que esvaziava a participação da cognição no processo terapêutico > além dessa limitação, a teoria orgonômica perpetuava a perspectiva de uma libido mecânica e hidráulica que vinha de Freud; um viés não superado por Navarro

Haldane: para que o mecanicismo e a manipulação terapêutica sejam evitados é necessária uma dinâmica relacional que leve em conta “as relações que ocorrem não apenas entre terapeuta e paciente, ou entre o paciente e outros indivíduos, mas entre os sistemas operacionais cognitivos e emocionais do paciente enquanto organismo humano”

Panksepp: os sentimentos das emoções podem emergir de níveis bastante primitivos da organização cerebral, sendo que a emoção tende a suplantar a cognição na vigência de estados emocionais cheios

A neurociência Afetiva ainda não atingiu o ponto de poder explicar o que acontece no cérebro dois SEO’s entram em conflito, exceto nos casos elementares de conflitos simples

Haldane > observa que tais conflitos - da subjetividade humana - envolvem sistemas outros que não os SEO’s > ‘moléculas da emoção’ ( Candace Pert) - neuropeptideos encontrados no fluido que banha a rede neuronal - além disso, o volume de transmissão ou intensidade de sinal da informação química no cérebro é tão importante quanto a própria rede neuronal. > distinção operacional entre os estados de expressão emocional mediatizados pelos SEO’s e os sentimentos experienciados subjetivamente mediados pelos neuropeptideos > conflito não é o embate entre dois fluxos de energia, e sim o contato entre dois conjuntos de informação emocional conflitantes, mediados pelos neuropeptideos, nos estados emocionais, e pelos neurotransmissores na expressão emocional >

Resistência > propriedade emergente da tríade característica das operações rede de neurônios, descritas como filtros de omissão, generalização e distorção >elemento participe da vida e não como algo que necessariamente atenta contra ela

PN > não toma nem a catarse nem o sofisticado trabalho da ‘per laboração’ psicanalítica como principio de fundo. O essencial é que a experiência terapêutica possa contemplar a integração entre os diversos ciclos componentes da vida, definidos por Thompson e Varela como: 1-ciclos de regulação organismica; 2-ciclos de acoplamento sensório-motor com o ambiente, e 3- ciclos de interação intersubjetiva > repousa nas relações entre as sinalizações provenientes do corpo através do núcleo dorsal do vago que se projeta nas estruturas baixas do tronco cerebral e dos SEO’s, entre estes e a superestrutura cognitiva-neocortical e entre os estados emocionais e as memórias de emoções e pensamentos > continuum dinâmico > alinhamento com o modelo dos sistemas complexos e não-lineares > biologia e a sociedade interagem no cérebro > perspectiva ND deve considerar de que maneiras a excitação e a inibição afetam-se mutuamente provocando mudanças nos ciclos > o terapeuta faz ambiente para o paciente e vice-versa > prioriza a atenção consciente ou o ‘dar-se conta’ em detrimento da mera interpretação de conteúdos ou da busca ativa de uma mudança no padrão da subjetividade do paciente através de intervenções unilaterais do terapeuta

Haldane > propõe que a presença de pulsação assimétrica seja uma definição essencial da vida, e a validade clinica do conceito pode estar em sua capacidade para quantificar a vida- ou a vivacidade ou até mesmo saúde - de forma mais acurada > pulsação expressa a relação entre fluxo e resistência e pode constituir um índice de rastreio da relação entre essas propriedades num organismo vivo > “hardwiring” ou cabeamento filogenético: nossa condição inicial, nossas características inatas de animais humanos; “Softwiring”: condição secundaria, nossas experiências como humanos/ historia individual cumulativa



domingo, 26 de junho de 2011

Announcing the Healthy Mind Platter - The healthy mind platter for optimal brain matter.

 

 

 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A TEORIA DA CONSCIÊNCIA DE DAVID CHALMERS - João de Fenandes Teixeira.

João de Fernandes Teixeira
Departamento de Filosofia, Universidade Federal de S. Carlos.
Grupo de Ciência Cognitiva, Instituto de Estudos Avançados da USP


O artigo tem por objetivo apresentar e discutir a teoria da consciência elaborada pelo filósofo David Chalmers no seu livro The Conscious Mind, publicado em 1996. O artigo é dividido em duas partes. A primeira expõe os principais delineamentos da teoria de Chalmers; a segunda discute seus principais conceitos, abordando a plausibilidade metafísica da existência dos "zumbis" e a idéia de superveniência.
Descritores: Consciência. Inteligência artificial. Cartesianismo. Cognição.


Num artigo publicado em 1978, o filósofo Daniel Dennett observou que a questão da natureza da consciência constitui o problema mais difícil a ser enfrentado pela Filosofia da Mente, a parte da ciência da mente que mais tem resistido ao estudo," the last bastion of occult properties, epiphenomena, immeasurable subjective states - in short, the one area of mind best left to the philosophers, who are welcome to it." (Dennett, 1978, p.149). Não existe nada mais imediato do que a experiência consciente mas ao mesmo tempo não existe nada tão difícil a ser explicado.
No panorama da Filosofia da Mente e da Ciência Cognitiva a questão da natureza da consciência começa a ocupar lugar central nas pesquisas a partir do final da última década, após um longo e deliberado silêncio sobre esta questão por parte dos filósofos da mente e dos estudiosos de Inteligência Artificial. Marcos do reaparecimento de uma preocupação crescente com a questão da natureza da consciência são os estudos de Jackendoff (1987), Calvin (1990), Dennett (1991) e Flanagan (1992). Estes trabalhos procuraram desmistificar a noção de consciência e situá-la, seja no âmbito de teorias cognitivistas, seja no âmbito das neurociências. Tentava-se mostrar que este fenômeno é suscetível de ser tratado pelos métodos tradicionais da Ciência Cognitiva, através de teorias computacionais ou através do estudo de mecanismos neurais. Sentia-se a necessidade de formular uma teoria da consciência e não apenas de curvar-se diante da perplexidade dos problemas envolvidos no estudo da natureza dos estados conscientes.
É neste contexto que se insere o livro de D. J. Chalmers, "The Conscious Mind", talvez a tentativa mais recente de se formular uma teoria abrangente da natureza da consciência. Sua teoria é ousada e corre na direção oposta a tudo o que os cientistas cognitivos e neurocientistas desejam: reduzir estados conscientes a uma base neurofisiológica ou física.
Chalmers toma como ponto de partida aquilo que para muitos (aí incluídos até alguns neurocientistas) constitui o horizonte intransponível de qualquer teoria científica da natureza da consciência: reconhecer que não é possível formular uma teoria que explique plenamente como um sinal cerebral pode dar origem a um estado consciente.1 Em outras palavras, a consciência deve ser o ponto de partida, e não o ponto de chegada de qualquer teoria da mente; uma perspectiva que converge com as teorias físicas contemporâneas nas quais o psiquismo ou a mente do observador emerge como um elemento necessário para explicar o comportamento da natureza.2 Neste sentido, Chalmers sugere que uma teoria da consciência deve tomar a noção de experiência consciente como sendo um primitivo. Uma teoria da consciência requer a adição de algo fundamental à nossa ontologia, na medida em que tudo em teoria física é compatível com a ausência de consciência. A experiência consciente deve ser considerada como sendo uma característica fundamental do mundo, do mesmo jeito que massa, carga eletromagnética e espaço-tempo.
Muitos fenômenos são explicáveis em termos de entidades mais simples do que eles, mas isto não é universal. As vezes certas entidades precisam ser tomadas como primitivas ou fundamentais. Entidades fundamentais não podem ser explicadas em termos de algo mais simples. Por exemplo, no século XIX ficou claro que processos eletromagnéticos não poderiam ser explicados em termos de processos mecânicos. Diante disto, Maxwell introduziu as noções de carga e fôrça eletromagnética como componentes fundamentais de sua teoria física. Ou seja, para explicar o eletromagnetismo a ontologia da física teve de ser expandida. Outras características que a teoria física assume como fundamentais são as noções de massa e de espaço-tempo. Nunca se procurou explicar estas noções em termos de algo mais simples, o que entretanto não descarta a possibilidade de se construir uma teoria a partir dos conceitos de massa ou de espaço-tempo.
Esta posição é uma variedade de dualismo, na medida em que ela postula propriedades básicas além daquelas estipuladas pela física. Mas trata-se de uma variedade inocente de dualismo, inteiramente compatível com uma visão científica do mundo. Como assevera Chalmers, não há nada místico ou espiritual nesta teoria. É uma teoria inteiramente naturalista, na medida que, segundo ela, o universo não é nada mais do que uma rede de entidades básicas que obedecem um conjunto de leis e a consciência pode ser explicada a partir destas. Trata-se de um dualismo naturalista.
O dualismo naturalista permite desenvolver uma teoria não-reducionista da consciência que consistirá de um conjunto de princípios psicofísicos ou seja, princípios que conectam propriedades de processos físicos com propriedades da experiência. Podemos pensar nestes princípios como englobando a maneira pela qual a experiência consciente emerge da estrutura física. Em última análise, esses princípios devem nos dizer que tipo de sistemas físicos podem gerar experiências e, no caso de sistemas que o fazem, eles devem nos dizer que tipo de propriedades físicas são relevantes para a emergência da experiência consciente.
A defesa deste ponto de vista orienta o modo pelo qual Chalmers estrutura seu livro: num primeiro momento, é preciso reconhecer a verdadeira dimensão do problema da consciência, desvinculando-o de um conjunto de problemas subsidiários que podem ocultar ou escamotear a sua identificação adequada. O segundo momento, consiste em atacar as explicações funcionais e reducionistas da consciência, e mostrar em que sentido estas podem ser necessárias mas não suficientes para dar conta da natureza específica da experiência consciente. A terceira parte do livro esboça uma teoria geral da consciência com base num conjunto de princípios psicofísicos.
O reconhecimento do problema da consciência significa sustentar que este não é um pseudo-problema e que o filósofo da mente não pode fugir da tarefa de ter de enfrentá-lo seriamente. Esta tentação pode surgir pelo fato de estarmos enfrentando um problema extremamente árduo. Para começar, a Filosofia da Mente não reconhece a existência de apenas um problema da consciência. "Consciência" é um termo polissêmico e por vezes ambíguo, que se refere a vários tipos de fenômenos, como por exemplo:
- a habilidade para discriminar, categorizar e reagir a estímulos ambientais,
- a integração da informação através de um sistema cognitivo,
- a capacidade de relatar a ocorrência de estados mentais,
- a habilidade de um sistema para acessar seus próprios estados internos,
- o foco da atenção,
- o controle deliberado do comportamento,
- a diferença entre sono e vigília.
Todos estes fenômenos estão associados com a noção de consciência. Por exemplo, diz-se que um estado mental é consciente quando ele é passível de ser relatado verbalmente ou quando ele é internamente acessível. As vezes, diz-se que um sistema está consciente de uma informação quando ele tem a habilidade de reagir com base nela ou quando ele a integra e a elabora para produzir determinados comportamentos. Dizemos freqüentemente que uma ação é consciente porque ela é deliberada. Outras vezes, referimo-nos a um organismo como estando consciente quando este está em vigília.
No entender de Chalmers nenhum destes fenômenos - nem tampouco seu conjunto -caracteriza o verdadeiro problema da consciência: eles constituem apenas os aspectos funcionais da experiência consciente. Isto significa dizer que, em última análise, estes fenômenos podem vir a ser explicados cientificamente. Em outras palavras, nada impede que algum dia eles possam vir a ser explicados seja através de um modelo computacional seja através da descoberta de mecanismos neurais. Por exemplo, para explicar o acesso e a capacidade de relatar a ocorrência de estados mentais, basta especificar o mecanismo através do qual a informação acerca de estados mentais é recuperada e tornada disponível para relato verbal. Para explicar a integração da informação precisamos apenas conceber mecanismos através dos quais esta seja combinada e em seguida utilizada em outros processos. Para explicar a distinção entre sono e vigília uma explicação em termos neurofisiológicos que dê conta da diferença de comportamento do organismo nestes dois estados é mais do que suficiente.
Se explicar a consciência se resumisse a explicar estes fenômenos, então não haveria um problema filosófico da consciência. Embora estes sejam problemas empíricos de difícil solução, eles ainda não caracterizam os verdadeiros problemas colocados pela consciência. Estes são, em última análise, os "easy problems".
A grande dificuldade é o chamado problema da experiência ("hard problem"). Quando pensamos e percebemos o mundo existe um tipo de processamento de informação mas também um aspecto subjetivo nele envolvido. Como Nagel (1974) coloca, existe "something it is like to be a conscious organism." Este aspecto subjetivo é a experiência consciente. Como caracterizar a experiência consciente? O que significa ter uma imagem mental neste momento ou experimentar uma sensação corporal qualquer? O que unifica tudo isto? A experiência emerge de uma base física mas não sabemos como isto é possível. Como algo físico pode dar lugar a experiências internas ou estados internos?
O reconhecimento da existência de um "hard problem" tem como conseqüência uma desqualificação das tentativas de explicação funcional da natureza da consciência entendida como experiência consciente. Explicações funcionais podem ser necessárias, mas certamente não serão suficientes para explicar a natureza da experiência consciente. Pois, como explicamos o desempenho de uma função? Especificando o mecanismo que desempenha a função. A aplicação de conhecimentos oriundos da neurofisiologia e das ciências cognitivas pode resolver vários problemas neste sentido. Se mostrarmos como um mecanismo neuronal ou computacional pode desempenhar uma determinada tarefa, teremos explicado o fenômeno em questão.
Mas no caso da experiência consciente este tipo de explicação falha. O problema da experiência consciente requer algo mais do que explicar o desempenho de funções. Em outras palavras, o "hard problem" persiste mesmo quando o desempenho de todas as funções relevantes é explicado. A questão que se coloca é a seguinte: Por que o desempenho destas funções é acompanhado por experiências? Ou seja, pode-se explicar como a informação é discriminada, integrada e relatada, mas isto não significa explicar como ela é experienciada. Esta é a questão chave no problema da consciência - explicar como e porque surge a experiência no decorrer do processamento de informação. Não existe nenhuma função cognitiva cuja explicação leve automaticamente à uma explicação da experiência consciente. A experiência consciente supervem a sua base física, ou seja, nenhum fato do mundo, mesmo a nível microfísico, implica necessariamente na produção de estados conscientes.3
O conceito de superveniência, cuidadosamente analisado por Chalmers em seu livro sustenta este ponto de vista. Uma propriedade B de um determinado indivíduo é chamada de superveniente se é produzida por um conjunto de propriedades A desse mesmo indivíduo. Por exemplo, um conjunto de propriedades físicas pode determinar um conjunto de propriedades biológicas na medida em que fenômenos vitais dependem de uma base física. Estes fenômenos vitais são então supervenientes em relação a sua base física; se as propriedades físicas variarem, as propriedades biológicas também variarão. A determinação de propriedades supervenientes pode ser lógica (conceitual) ou natural (empírica ou nômica). No caso da superveniência lógica as propriedades B são conseqüência automática da existência das propriedades A, ou seja, não seria possível conceber A sem conceber B. Já no caso da superveniência natural é possível conceber A sem conceber B, mas existe uma conexão empírica, de fato, entre A e B.
Ora, o esforço de Chalmers será mostrar que estados conscientes não são logicamente supervenientes em relação a estados físicos: é perfeitamente concebível a existência de duas criaturas fisicamente idênticas sendo que uma desenvolve experiências conscientes e outra não. O exemplo paradigmático invocado por Chalmers é a plausibilidade de concebermos criaturas como zumbis. Neste experimento mental4, um zumbi é uma criatura fisicamente idêntica a mim, molécula por molécula. Ele é também funcionalmente equivalente a mim, no sentido de que ele pode fazer tudo o que eu faço. Contudo, posso perfeitamente conceber que este zumbi não tenha experiências conscientes. Este zumbi pode ser até uma réplica de mim mesmo, mas replicar minhas características físicas e funcionais não implica, automaticamente, em replicar minha possibilidade de ter estados conscientes. O mesmo poderia ser dito de um robô que replicasse totalmente minhas possibilidades funcionais, um robô humanóide como é o caso do COG.5 Assim sendo, nada indica que estados conscientes sejam logicamente supervenientes em relação a estados físicos e nem mesmo a determinadas arquiteturas funcionais. Estados conscientes são, no máximo, natural ou empiricamente supervenientes em relação a estados físicos, ou seja, não há conexão lógica entre base física ou arquitetura funcional e consciência. A consciência é contingente em relação a sua base física; ela é um fator suplementar.6
A crítica às possibilidades das explicações funcionais é seguida, no texto de Chalmers, por um ataque às explicações reducionistas, conservando a mesma linha de raciocínio. As explicações redutivistas, quase sempre no âmbito da ciência cognitiva ou da neurociência, escamoteiam a verdadeira natureza do problema da consciência e o identificam com os "easy problems". Dentre os vários modelos de explicação reducionista analisados por Chalmers chamam a atenção os de Crick e Koch (1990), de Baars (1988) e de Dennett (1991).
Crick e Koch desenvolveram a chamada "teoria neurobiológica da consciência". Esta teoria baseia-se na descoberta de uma constância em certas oscilações neuronais que se situam entre 35-75 hertz no córtex cerebral. Crick e Koch desenvolvem a hipótese de que estas oscilações são responsáveis pela produção da consciência, na medida em que elas estão relacionadas com o estado de vigília num número grande de modalidades - visual e olfatória - bem como com a integração de informação. Os autores sugerem que no processo de integração de diferentes segmentos de informação, grupos neuronais oscilam na mesma freqüência e fase numa sincronização perfeita. A integração de informação (binding), por sua vez, possibilita a identificação perceptual de objetos fora de nós, o que seria um primeiro passo para a explicação da natureza da consciência.
A objeção de Chalmers consiste em sustentar que este tipo de teoria é muito sugestivo, mas ela não nos diz nada acerca de como e porque alguns conteúdos mentais tornam-se experiências conscientes. A descoberta das oscilações por Crick e Koch sugere que estas seriam os correlatos neurais da experiência. Mas o" hard problem" permanece intocado: por que as oscilações geram experiências conscientes? Qual é a conexão entre estes dois fenômenos?
O segundo modelo explicativo criticado por Chalmers é oriundo da psicologia cognitiva. É a teoria do espaço global da consciência (global workspace), desenvolvida por Baars (1988). De acordo com esta teoria, os conteúdos conscientes estão contidos num espaço global: uma espécie de processador central usado para mediar a comunicação com um conjunto de processadores especializados não-conscientes. Quando estes processadores especializados precisam transmitir informação para o resto do sistema, eles o fazem mandando informação para o espaço global que atua como uma espécie de quadro comunitário, acessível a todos os outros processadores.
Baars utiliza-se deste modelo para se referir a muitos aspectos da cognição humana e para explicar uma série de contrastes entre funcionamento cognitivo consciente e inconsciente. Em última análise, estamos diante de uma teoria da acessibilidade cognitiva que explica como certos conteúdos informacionais tornam-se acessíveis dentro de um sistema. É também uma teoria da integração informacional da mente e da possibilidade de auto-relatar conteúdos mentais. Contudo, ela não oferece uma teoria da experiência.
Poder-se-ia supor que, de acordo com esta teoria, os conteúdos da experiência são os conteúdos do espaço global. Mas nada explica porque a informação no interior do espaço global é experienciada. Esta teoria pode, no máximo, asseverar que a informação é experienciada porque ela é globalmente acessível. Mas por que a acessibilidade global teria de dar, necessariamente, origem à experiência consciente? Não seria possível ocorrer a acessibilidade global através do" workspace" sem ocorrer experiência consciente?
O modelo das "múltiplas camadas" (multiple drafts) desenvolvido por Dennett (1991) também é criticado por Chalmers. A idéia de Dennett baseia-se num modelo chamado "pandemonium", uma série de pequenos agentes que disputam a primazia pelo foco da atenção. Tudo se passa como se o agente que" gritar mais alto" no meio desta disputa possa então "subir ao palco" e orientar o processamento subseqüente - este agente corresponde, metaforicamente, a um estado mental que se torna (momentaneamente) consciente.7 Não existe "supervisor" neste modelo, sua dinâmica é ditada por princípios de auto-organização que Dennett toma emprestados de teorias conexionistas. Este modelo, no entender de Chalmers, pode no máximo explicar a possibilidade de se relatar o conteúdo de certos estados mentais. Ele escorrega para o lado dos "easy problems" na medida em que estipula como um estado mental torna-se consciente mas não o que seja a própria experiência consciente.
A revisão e a crítica de teorias contemporâneas da consciência prossegue na segunda parte do livro de Chalmers concentrando-se nos vários tipos de estratégias teóricas utilizadas pelos pesquisadores. A primeira delas consiste em dizer que a experiência é um fator complementar na explicação dos mecanismos da consciência. Este tipo de abordagem deixa de lado as tentativas de explicar a natureza da experiência e concentra-se na explicação dos mecanismos cognitivos subjacentes à consciência, ou seja concentra-se nos "aspectos simples" (easy problem) do problema.
O segundo tipo de estratégia consiste em negar a especificidade do fenômeno. Esta linha é desenvolvida por pesquisadores como Allport (1988), e Wilkes (1988). De acordo com esta estratégia, se funções como acessibilidade, capacidade de relatar estados internos e outras são explicadas, não há necessidade de explicar o que chamamos de "experiência". Alguns partidários desta estratégia procuram negar o fenômeno experiência dizendo que ele não é externamente verificável e portanto não é algo real. Esta estratégia tem como resultado a formulação de teorias bastante simples, mas insatisfatórias. Na realidade, eles escamoteiam o problema.
Na terceira estratégia, alguns pesquisadores afirmam ter explicado a experiência. Eles abordam este aspecto do problema seriamente, e dizem que sua teoria funcional explica as qualidades subjetivas da experiência (Flohr, 1992; Humphrey, 1992). Eles explicam como o processamento de informação ocorre e, subitamente a idéia de experiência é introduzida. Contudo, não explicam como a consciência emerge desses processos.
Uma quarta estratégia apela para a idéia de explicar a estrutura da experiência. Argumenta-se por exemplo, que uma explicação de como o sistema visual opera discriminações pode explicar as relações entre diferentes experiências de cor (ver Clark, 1992 e Hardin, 1992). Fatos acerca dessas estruturas no processamento corresponderiam a fatos na estrutura da experiência. O problema desta estratégia é que ela toma a própria existência da experiência como ponto de partida - e isto significa, de certa maneira, escamotear uma explicação de como e porquê a experiência se forma nestes fenômenos.
Uma quinta estratégia consiste em isolar o substrato da experiência. Toma-se como ponto de partida o fato de que a experiência emerge de processos cerebrais. É preciso então identificar os processos que levam ao aparecimento deste tipo de fenômeno específico. Esta é a linha adotada por Crick e Koch, ao tentar isolar o correlato neuronal da consciência. O mesmo tipo de linha é adotada por Edelman (1989) e Jackendoff (1987). Contudo, esta estratégia é ainda insatisfatória. Uma teoria satisfatória tem de fornecer mais do que simplesmente isolar os processos que dão lugar ao aparecimento da experiência.
Todas estas estratégias falham na medida em que não fornecem um bom método para explicar o ingrediente suplementar (extraness) necessário para se obter uma explicação da natureza da consciência. Mas o que poderia ser este ingrediente suplementar e como ele poderia explicar a natureza da experiência consciente?
A análise de Chalmers recobre as tentativas de alguns teóricos que propuseram que este ingrediente suplementar deve ser procurado na teoria do caos ou na dinâmica não-linear. Outros sugerem que a chave para isto está no processamento não-algorítmico. Outros apelam para futuras descobertas da neurofisiologia e outros ainda, para a mecânica quântica.
O processamento não-algorítmico é sugerido por Penrose (1989, 1994) por causa do papel da consciência na intuição matemática. Mas este tipo de explicação - na concepção de Chalmers - ainda seria apenas uma explicação de funções envolvidas no raciocínio matemático. Pois mesmo que falemos de processamento não-algorítmico podemos ainda questionar porque este último daria origem à experiência. Assim sendo, a teoria de processamento não-algorítmico não teria nenhuma vantagem aparente.
O mesmo é afirmado por Chalmers acerca de processamento não-linear e da dinâmica do caos. Uma aplicação destas teorias pode fornecer uma explicação da dinâmica de funcionamento cognitivo, mas a questão da experiência ainda permanece inexplicada. Podemos sustentar a mesma afirmação acerca de possíveis descobertas neurofisiológicas.
Uma concepção de ingrediente suplementar que tem ganhado terreno ultimamente origina-se da mecânica quântica (Hameroff, 1994). A inspiração desta proposta baseia-se na idéia de que fenômenos quânticos têm características funcionais extremamente interessantes, como, por exemplo, o indeterminismo e a não-localidade. Poder-se-ia então especular que estas propriedades seriam responsáveis por certos processos cognitivos como, por exemplo, escolha randômica ou integração de informação. Mas, novamente, a crítica de Chalmers recai no fato de que estas teorias nada nos dizem acerca da natureza da experiência consciente.
A mesma crítica é por ele estendida a qualquer tentativa de explicar a consciência em termos puramente físicos. Pois qualquer teoria que siga esta linha, enfrentará no final o mesmo tipo de questão: por que tal e tal processo dá origem à experiência? Qualquer processo funcional pode ser instanciado sem a participação da experiência o que mostra que a experiência ultrapassa o que pode ser derivado de qualquer teoria física.
Explicações físicas são boas enquanto explicação do desempenho de funções, explicando estas últimas em termos de mecanismos físicos que as desempenham. Mas fatos acerca da experiência não podem ser conseqüência automática de nenhuma explicação física - eles podem existir sem experiências. A experiência pode emergir de uma estrutura física, mas não é conseqüência desta.
Chegamos assim à proposta de uma teoria não-reducionista da experiência consciente. O esboço desta teoria ocupa a terceira parte do livro de Chalmers, a parte que ele chama de "construtiva" na medida em que oferece uma alternativa a todas as teorias anteriormente criticadas. Esta teoria deve ser compatível com a proposta não-reducionista e com o dualismo naturalista, ou seja, ela não deve conflitar com os resultados da ciência. Em outras palavras, este dualismo brando deve especificar um conjunto de princípios básicos que nos mostrem como a experiência consciente supervem à características físicas do mundo. Estes princípios psicofísicos não interferem com as leis físicas na medida em que estas últimas formam um sistema fechado. Na realidade, elas suplementam a teoria física.
Chalmers identifica três princípios psicofísicos na sua teoria: o princípio de coerência estrutural, o princípio de invariância organizacional e o princípio do duplo aspecto da teoria da informação. O primeiro princípio estabelece uma relação coerente entre a "structure of consciousness" e a" structure of awareness" ou seja, toda experiência consciente é cognitivamente representada, ou seja, assume a forma de um processo cognitivo, embora nem tudo o que seja cognitivamente representável seja necessariamente consciente. Existe uma relação íntima entre cognição e consciência que torna os estados conscientes passíveis de relato verbal, acessíveis aos sistemas centrais que controlam o comportamento e tudo o mais que compõe a "structure of awareness". Este quase-isomorfismo entre structure of consciousness e structure of awareness permite que teorias cognitivas e neurofisiológicas sirvam de ponto de partida para uma teoria da experiência consciente: estas teorias devem explicar a base física ou os correlatos neurofisiológicos sobre os quais a experiência consciente supervém.
O princípio da invariância organizacional estipula que dois sistemas com a mesma organização funcional terão experiências qualitativamente idênticas. Isto significa dizer que se construirmos uma réplica do cérebro humano em silicone preservando os mesmos padrões causais de organização neuronal, este cérebro replicado poderá ter as mesmas experiências que o cérebro humano. O que conta na emergência de experiências não é o tipo de substrato físico de um sistema mas seu princípio arquitetônico ou a organização de seus componentes.
O terceiro princípio, do duplo aspecto da informação é o princípio básico e fundamental da teoria da consciência de Chalmers. Ele toma como ponto de partida a noção de informação tal como é definida por Shannon (1948) e sustenta que esta tem um duplo aspecto: um físico e outro fenomênico. É o aspecto fenomênico que dá origem à experiência consciente e este princípio é, sem dúvida, o mais controverso na teoria de Chalmers: afinal, quais são as peculiaridades da informação que podem dar origem a estados conscientes? Será a consciência privilégio apenas de cérebros humanos ou poderá ela ser estendida a outros processadores de informação como cérebros de animais ou até mesmo máquinas?
É notável o quanto este aspecto permanece obscuro na teoria de Chalmers e o situa ao lado do grupo de filósofos contemporâneos como McGinn que foram chamados de "New Mysterians" por suporem que há algo de misterioso na explicação da consciência.8 Em várias passagens de seu livro nota-se um constante flerte com posições dualistas que são, em seguida, abrandadas pela idéia de um "dualismo naturalista".9 Afinal, ao reconhecer que a" experiência consciente" é uma dimensão qualitativa do universo ou um" primitivo" da mobília do mundo estaremos tão distantes assim da idéia cartesiana da pluralidade das substâncias? Pouco podemos dizer do "aspecto dual da informação" da mesma maneira que pouco se pode dizer das características da" substância pensante" cartesiana. A irredutibilidade da dimensão subjetiva da experiência consciente parece originar-se do fato desta apresentar-se como um dado imediato - mas será este o único ponto de partida plausível para iniciarmos uma teoria da consciência? Por que teríamos de necessariamente iniciar nossa reflexão assumindo uma posição solitária? Quando olhamos para uma lagosta sendo jogada na água quente, contorcendo-se com a dor, não estamos intuitivamente atribuindo algum tipo de experiência consciente a esse organismo?
O flerte de Chalmers com o cartesianismo torna-se igualmente evidente na sua teoria da superveniência dos estados conscientes. A critica a explicações reducionistas e puramente funcionais da natureza da consciência encontra-se, de maneira embrionária, nos escritos de Descartes sobre os autômatas. Descartes sustentava que a duplicação de características materiais e funcionais de um ser humano poderia ser condição necessária mas não suficiente para se replicar a vida mental humana.10 Um autômato bem construído pode vir a fazer tudo o que um ser humano faz, mas nunca se igualaria a este: seria, no máximo, uma proeza de engenharia, algo que, contudo, não teria alma (e não poderíamos substituir esta palavra por "experiência consciente"?) Neste sentido, o autômato de Descartes não é muito diferente do zumbi de Chalmers.
A diferença entre a posição de Chalmers e a posição cartesiana consiste no fato de Descartes ter afirmado, categoricamente, que a vida mental não pode supervir no autômata. Chalmers deixa aberta esta possibilidade, ao defender a Inteligência Artificial no sentido forte, nos últimos capítulos de seu livro. Mas a pressuposição de Chalmers de que a similaridade funcional não é suficiente e não implica na produção de estados conscientes é inteiramente metafísica. Afinal, se mantivermos o primado da primeira pessoa para fundar nossa teoria da consciência, o que pode nos garantir que um robô que faça tudo o que um ser humano pode fazer não tem experiências conscientes?
Esta última questão faz-nos refletir sobre outros problemas que surgem a partir da teoria de Chalmers - problemas tão interessantes quanto complexos. Em primeiro lugar, destaca-se o chamado problema da repredicação. Suponhamos que por um certo período de tempo tenhamos convivido com um robô de forma humanóide, uma réplica cuja aparência externa fosse exatamente igual à de um ser humano. Este robô poderia ser, por exemplo, o COG, o robô humanóide que no momento está sendo desenvolvido no MIT. O COG estaria convivendo conosco e seu comportamento seria indistinguível daquele exibido por um ser humano qualquer. Ocorre que não sabíamos que estávamos lidando com um robô e não um ser humano. Isto significa que por muito tempo estaríamos atribuindo ao COG os mesmos predicados mentais que normalmente atribuímos a um ser humano, incluindo a capacidade de desenvolver comportamentos e experiências conscientes. Um dia, o COG (que não sabíamos ser um robô) escorrega, cai e bate a cabeça na banheira. Seu crânio se rompe e, em vez de encontrarmos dentro dele a massa encefálica de um ser humano, encontramos fios e chips de computador. Teria cabimento retirar todos os predicados mentais que vínhamos atribuindo a ele até então - predicados mentais que o equiparavam a um ser humano normal? Teria cabimento afirmar: "bem, agora que eu descobri que você é na verdade um robô, então você não tinha estados mentais nem tampouco experiências conscientes?"
A segunda questão surge no mesmo esteio da primeira: COG seria, no máximo, um zumbi. Mas será possível supor a existência de zumbis, mesmo enquanto possibilidade metafísica? A suposição fundamental subjacente à concepção de zumbi defendida por Chalmers é que estas seriam criaturas que agem, conversam, sentem dores etc, ou seja, poderiam passar no Teste de Turing11 de maneira eficiente. A única - e grande diferença - estaria no fato de que eles não poderiam ter experiências conscientes. Mas, se um zumbi é, do ponto de vista comportamental, indistingüível de um ser humano, o que poderia nos impedir de atribuir a ele a propriedade de ter consciência? O que ocorreria se, durante o teste de Turing o interrogador formulasse a questão: "Você tem experiências conscientes?" ou" Você tem consciência daquilo que acabaram de perguntar a você?" Haveria duas possibilidades de resposta, uma afirmativa outra negativa. Mas, em ambos os casos, a noção de experiência consciente já se encontra pressuposta na resposta que o zumbi pode dar, seja ela afirmativa ou negativa, esteja ele mentindo ou não. Alternativamente, ele poderia ser incapaz de fornecer qualquer tipo de resposta, mas, neste caso, ele não passaria no Teste de Turing e sua suposta existência como ser que faz tudo que um ser humano pode fazer - exceto ter estados conscientes - tornar-se-ia uma impossibilidade, ou melhor, uma contradição em termos...
Uma terceira série de questões surge ao refletirmos sobre a noção de superveniência introduzida por Chalmers. Terá sentido, afinal de contas, afirmar que a consciência constitui um ingrediente suplementar que supervém à organização mental e funcional de um organismo ou sistema? Não estaríamos aqui diante de uma confusão conceitual? Até que ponto é sustentável a independência da experiência consciente em relação à organização funcional ou à estrutura física de um organismo? Tomemos os predicados ser consciente e ter saúde. Em ambos os casos, a atribuição destes predicados não dependeria da possibilidade de explicar o funcionamento de uma estrutura física específica de um organismo, isto é, em ambos os casos, a atribuição destes predicados fundamenta-se na observação de uma característica global do organismo. Contudo, aqui corremos o risco de deslizar da idéia de característica global para a idéia de característica adicional. Não teria cabimento supor que - mesmo por um ato de imaginação filosófica - poderíamos remover a saúde de um organismo ao mesmo tempo que mantemos a totalidade de seus órgãos e suas interações em perfeito estado, ou, inversamente, que poderíamos remover alguns desses órgãos e, mesmo assim, achar que preservamos a saúde do organismo, isto é, que ela poderia permanecer intacta. Ora, por que não poderíamos afirmar o mesmo em relação à consciência?


TEIXEIRA, J.F. On Chalmer’s Theory of Consciousness. Psicologia USP, São Paulo, v.8, n.2, p.109-128, 1997. Abstract: The paper focuses on Chalmer´s theory of consciousness as it is presented in his most recent book, The Conscious Mind, published in 1996. The first part is devoted to a presentation of the main outlines of Chalmer´s theory. The second part discusses such a theory by focusing on the metaphysical plausibility of the existence of zombies as well as on the notion of supervenience.
Index terms: Consciousness. Artificial intelligence. Cartesianism. Cognition.
 

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1 Este é o chamado "problema da geração", aparentemente formulado pela primeira vez por John Tyndall que afirmava que "The passage from the physics of the brain to the corresponding facts of consciousness is unthinkable. Granted that a definite thought and a definite molecular action in the brain occur simultaneously, we do not possess the intellectual organ, nor apparently any rudiment of the organ which would enable us to pass, by a process of reasoning, from one to the other." (citado por James, 1890, p.147). O mesmo ponto de vista parece ser sustentado por alguns filósofos contemporâneos, como, por exemplo, McGinn (1989), que argumenta que este é um problema excessivamente complexo para nossas mentes, na medida em que a experiência consciente está fora do escopo de qualquer teoria científica.
2 Num artigo publicado em 1980 H. J. Morowitz observava que "first, the human mind, including consciousness and reflective thought, can be explained by activities of the central nervous system, which, in turn, can be reduced to the biological structure and function of that physiological system. Second, biological phenomena at all levels can be totally understood in terms of atomic physics, that is, through the action and interaction of the component atoms of carbon, nitrogen, oxygen and so forth. Third and last, atomic physics, which is now understood most fully by means of quantum mechanics, must be formulated with the mind as a primitive component of the system." (p.39).
3 "that is, that all the microphysical facts in the world do not entail the facts about consciousness." (Chalmers, 1996, p.93).
4 Um experimento mental, figura freqüentemente utilizada na literatura da filosofia da mente, consiste em imaginar uma situação hipotética, algo que teoreticamente pode vir a ser realizado mas que não contraria possibilidades físicas e lógicas. A importância dos experimentos mentais consiste no fato de que destas situações hipotéticas podemos extrair imediatamente conseqüências conceituais importantes.
5 Cog é o nome de um robot cujo projeto está atualmente sendo desenvolvido no laboratório de inteligência artificial do MIT. A idéia é construir um robot humanóide, uma máquina geral que possa fazer tudo o que um ser humano faz.
6 Veja-se por exemplo, a passagem onde Chalmers afirma: "... consciousness is a surprising feature of the universe. Our grounds for belief in consciousness derive solely from our own experience of it. Even if we knew every last detail about the physics of the universe - the configuration, causation and evolution among all the fields and particles in the spatiotemporal manifold - that information would not lead us to postulate the existence of conscious experience. My knowledge of consciousness, in the first instance, comes from my own case, not from any external observation. It is my first-person experience of consciousness that forces the problem on me." (1996, p.101).
7 Dennett afirmou, certa vez, que a melhor maneira de entender seu modelo é pensar que a consciência é como a fama. Todos querem ser famosos e disputam um lugar no palco, mas o são apenas por alguns minutos e logo em seguida são substituídos por outros. O mesmo ocorre com estados mentais: quando se tornam "famosos" são conscientes por alguns segundos.
8 Numa entrevista concedida a Robert Wright, da revista Time de abril de 1996, McGinn afirma" For human beings to try to grasp how subjective experience arises from matter is like slugs trying to do Freudian psychoanalysis. They just don´t have the conceptual equipment." (p.45).
9 Veja-se por exemplo uma das passagens finais do seu livro onde ele diz "I have advocated some counterintuitive views in this work. I resisted mind-body dualism for a long time, but I have now come to the point where I accept it, not just as the only tenable view but as a satisfying view in its own right. It is always possible that I am confused, or that there is a new and radical possibility that I have overlooked, but I can confortably say that I think dualism is very likely true. I have also raised the possibility of a kind of panpsychism. Like mind-body dualism, this is initially counterintuitive, but the counterintuitiveness disappears with time. I am unsure whether the view is true or false, but it is at least intellectually appealing, and on reflection it is not too crazy to be acceptable." (p.357).
10 A este respeito poderíamos citar várias passagens do Discurso do Método. Mais ilustrativa, contudo, é a carta de Descartes ao Marquês de Newcastle, de 23 de novembro de 1646, onde estas posições são sustentadas de maneira mais explícita.
11 O Teste de Turing, criado pelo matemático inglês homônimo, consiste em comparar os comportamentos manifestos de um organismo humano com aqueles produzidos por um robô ou computador criado para desenvolver tarefas humanas. Se da comparação resultar que as características dos comportamentos do organismo são indistingüíveis daquelas dos outputs produzidos pela máquina, podemos, de acordo com Turing, atribuir a esta estados mentais.
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