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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sistemas Emocionais. O medo, a couraça e o sentido de Si. (pag 240-260)

Segundo Darwin, os 1ºs esforços na na direção do estudo das emoções forma feitos por Charles Bell em sua Anatomia e Filosofia da Expressão


Darwin > aponta para a universalidade das expressões emocionais e anuncia os 3 princípios fundamentais responsáveis pelas expressões emocionais e gestos involuntários nos homens e animais > 1º - força do habito; 2º - principio da antítese e 3º - ação direta do sistema nervoso.

Até a década de 60 as expressões faciais eram consideradas meros signos arbitrários, que a criança aprendia. Conforme suas caretas fossem recompensadas ou punidas ( PINKER 1997p.365) > Paul Eckman apresenta os 1ºs resultados de seus estudos sobre a universalidade das expressões emocionais > Eibl-Eibesfeldt, da década seguinte, demonstra a existência de universais das expressões emocionais em crianças cegas e surdas desde o nascimento, evidenciando a existência de uma plataforma neurobiológica das emoções independente da experiência.

Tanto a tradição behaviorista como a tradição metapsicológica freudiana dominaram o sec.XX, eclipsando a perspectiva oferecida pelas teses reichianas `a compreensão do sofrimento subjetivo > sustentaram uma atitude que colocava os temas subjetivos fora do alcance do inquérito cientifico, ao contrario da posição adotada por Reich

Hipótese reichiana > sugeria que os agenciamentos corporais e os regramentos ambientais das emoções engendravam um modelo prevalente de operação do sujeito psíquico que embotava sua capacidade criativa e tornava-o dócil e adaptado às exigências de uma sociedade organizada de modo contrario aos seus legítimos interesses biológicos e sociais > levantava questões filosóficas e sociais de difícil resolução empírica : problema mente-corpo, questionamento dos princípios e valores educacionais do paradigma pedagógico vigente e as distorções impostas pelas relações de poder econômico sobre a vida amorosa e a organização familiar, sobre a formação de valores éticos, sobre a vida sexual das novas gerações e sobre a organização geral da sociedade.

PN > Reich toma o bonde errado da orgonomia sem cérebro > neurociência contemporânea vem pavimentando o caminho para as concepções que contemplam o papel do corpo na produção das emoções e da consciência, remetendo a sua regulação ao SNC.

Dificuldade na construção de uma classificação consensual e discriminada entre estados emocionais primários ( invariantes neurobiológicos) e secundários ( combinações das emoções primarias que apresenta variações conforme a cultura ).

Afinal, o que é uma emoção?

LENT > “é uma experiência subjetiva acompanhada de manifestações fisiológicas detectáveis”

DAMASIO > “conjunto complexos de reações químicas e neurais formando um padrão(neural)” > exercem algum tipo de papel regulador > ligados à experiência de Si que se seguem aos eventos desencadeadores de emoções > elo de ligação entre as experiências vividas pelo o organismo e o sentido de Si > os estados de humor expressam a atividade dos sentimentos de fundo e encontram-se na origem do sentido de Si > estados do corpo que ocorrem entre as emoções e que “constituem o sentimento da própria vida, a sensação de existir” > essencial para a conceituação de proto-self e seu papel na produção da consciência central

PANKSEPP > “Quando poderosas ondas de afeto suplantam nosso sentido de nós mesmos no mundo, dizemos que estamos experimentando uma emoção” > leva em conta as suas funções adaptativas e integrativas em termos do SNC, superando as meras descrições de suas manifestações exteriores ou limitando as suas causas a eventos ambientais

REICH > as emoções- em especial o erotismo genital com sentimento amoroso ou potencia orgástica, isto é: o amor - apresentam uma propriedade adicional: a de fazer com que a auto-regulação da economia se mantenha em níveis de integridade para a saúde física e mental do individuo.

NAVARRO > revela a importância do substrato neurobiológico para a clinica corpora lista ao observar que as emoções constituem um fenômeno vital de respostas a estímulos externos e/ou internos





Corpo, emoções e consciência constituem uma espécie de unidade de ressonância que ancora o sentido de Si como eixo ordenador da mandala da experiência

Em condições normais a atividade cognitiva prepondera sobre o pano de fundo emocional, mas, diante de acontecimentos que provocam estados emocionais “cheios”, a atividade subcortical assume a hegemonia e os conteúdos cognitivos ficam subsumidos ao panorama emocional em vigor

A definição utilitária das emoções como eventos desencadeados por acontecimentos ambientais e cuja finalidade é habilitar o organismo a reagir adequadamente às injunções ambientais mostra-se satisfatória apenas enquanto um descritor evolucionário para as emoções, não dando conta de aspectos importantes relativos a implicação dos sistemas emocionais na produção da subjetividade

PN > a perspectiva neuro- evolucionaria que emerge do atual debate neurobiológico permite ( sem que se incorra em reducionismo neurobiológico, como poderia parecer à primeira vista) a superação das interdições colocadas tanto pelo behaviorismo como pelo paradigma metapsicológico quanto ao papel do corpo e das emoções e das emoções na produção da subjetividade > reputa as emoções como uma extensão refinada dos comportamentos instintivos básicos, produzida ao longo da evolução filogenética da espécie habilitando os mamíferos a uma maior flexibilidade comportamental, o que abarca o cuidado com a prole e a possibilidade de experimentar subjetivamente estados emocionais > relação entre sentimentos de fundo e a abordagem reichiana que procura, através da fenomenologia somática dos traços de caráter, detectar a condição de base subjacente à neurose > considera a estrutura de caráter como o conjunto das memórias operacionais inconscientes dos acoplamentos infantis entre os impulsos e o ambiente > corresponde em grande medida ao que Damasio denomina de memória autobiográfica, com a diferença que o efeito-moldura da estrutura caracterológica se expressa em termos de memórias não declaratórias

Os processos emocionais básicos podem ser estudados em animais de laboratório e, dada a grande homologia interespécies observada nos cérebros mamíferos, infere-se que as emoções e os sentimentos ( embora não seus correlatos cognitivos) emergem extensivamente dos processos neurais subcorticais

MacLean > hipotetizou 3 domínios distintos na constituição do sistema nervoso humano > cérebro tri-uno constituído por estratos responsáveis pelas ações instintivas (cérebro reptiliano), pela produção de emoções (cérebro límbico) e pelas atividades cognitivas de ordem superior (neocórtex) > revela-se atualmente superado pelo modelo de sistemas dinâmicos complexos não lineares das operações da rede neural >

Recodificação: a experiência dos afetos estaria na dependência de algum tipo de recodificação ( a re-representação defendida pela psicanálise, como se viu em Garcia-Roza) da informação instintual primitiva nas regiões cognitivas superiores, em particular naquelas de exclusividade humana x top down: perspectiva neuro-evolucionária ( LeDoux e Rolls); responde pela singularidade da experiência humana; quem cria as emoções é a evolução e não o aprendizado; mas os conteúdos cognitivos que as acompanham dependem da atividade de áreas superiores do cérebro exclusivamente humanas - as extensas áreas do córtex frontal dorso-lateral que respondem pela memória de trabalho de ordem superior ou as funções de re-representação simbólica e as capacidades lingüísticas do cérebro humano - e encontram-se, portanto, na dependência das experiências ambientais, aí incluídas as experiências ou atos de linguagem.

PN > os mandatos regulatórios do comportamento social incidem sobre a plataforma biológica emocional filogeneticamente estabelecida formando as memórias operacionais / traços de caráter que transtornam o funcionamento da rede complexa constituída pelo continuum funcional entre os módulos cognitivos corticais, as alças de mão dupla córtico-subcórtico-corticais e os SEOs ( sistemas emocionais subcorticais com projeções às áreas corticais superiores cujos padrões de coerência respondem pela experiência comportamental e subjetiva de diferentes estados emocionais) de inscrição primariamente subcortical >

Reich e Navarro consideram o medo - força impulsional - consciente ou inconsciente da punição como a emoção fundadora das defesas estruturais > um alinhamento com a concepção científico-natural na base dos dinamismos defensivos da barreira narcísica, erigida às custas dos traços de caráter > ênfase no medo em face de sua centralidade na produção da estrutura caracterológica > esta aposta foi abandonada por ambos em favor de um paradigma energético de viés genérico e reducionista, que esvazia a possibilidade de uma reflexão mais consistente sobre o complexo e multifacetado efeito clinico introduzido pela experiência corporal na clinica da subjetividade.

Panksepp > estudos de estimulação cerebral há tempos sugerem a existência de um sistema operacional -conjunto de estruturas e rotas cerebrais diversas operando num padrão coerente- para o medo > os diversos SEOs identificados em modelos animais correspondem satisfatoriamente ao que se conhece genericamente como sistemas emocionais básicos humanos ou affect programs > “podem atuar, em termos de desenvolvimento, como sistemas atiradores dinâmicos, que se tornam maiores, mais complexos e mais sofisticados à medida que atraem diversas estruturas cognitivas para as suas esferas de influencia” > “quanto maior a esfera de influencia das emoções positivas, mais se espera que a criança se torne um membro socialmente ativo e produtivo”

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