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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Terapia do Esquema.

Apresento o inicio da série de fichamentos relacionados ao livro: Terapia do Esquema de J.Young, J.S.Klosko e M.E.Weishaar.


Estudo esta metologia também por acreditar que ela me ajuda a ampliar, aprofundar, desenvolver e manejar clinicamente conceitos básicos desenvolvidos inicialmente por Wilhelm Reich como traço, estrutura e analise do caráter. Destes estudos, quando aprofundados e sistematizados pelo próprio ( 1933) e posteriormente por seus “seguidores“, emergiu a clinica reichiana, a Analise do Caráter. Com a descoberta do orgone, o próprio autor, pareceu ter relegado estes aspectos a um segundo plano pois a própria formação dos traços de caráter foram vinculados aos bloqueios energéticos mais como sintomas do que como expressões destes. Por isso, os aspectos cognitivos dos traços, assim como os mesmos, saíram do foco atencional dos terapeutas comprometendo em muito a eficácia e eficiência da metodologias que se superpuseram a ela: vegetoterapia caractero-analítica e orgonoterapia.

Interessante verificar que mesmo Reich sendo o autor da Analise do Caráter, e esta fazer parte de seu "periodo psicanalítico", e ser reconhecido como importante e fundamental referencia neste estudo e conhecimento, ele não está incluído nas referencias bibliográficas da TE. Talvez por isso, a TE se auto intitula como uma metodologia inovadora e integradora.

As principais referencias dentro da Terapia Cognitiva Comportamental citam Reich. A Gestalt que é assumidamente uma referencia para a TE tem em muitos de seus pressupostos, princípios e axiomas desenvolvidos por W.Reich. Então é minimamente estranho. Mas a intenção aqui não é a denúncia e/ou fomentar a briga por poder e financiamentos mas sim mostrar que o caminho inicialmente trilhado por esta grande e polemica pessoa - W.Reich - ainda representa para muitos, iniciados ou não, o “Caminho Real para a consciência”.

Att,
Fabian Dullens.


FICHAMENTO TERAPIA DO ESQUEMA.


Proposta de terapia inovadora e integradora ,desenvolvida por Young e colegas, que amplia significativamente os tratamentos e conceitos da TCC.

Mescla elementos das escolas Cognitivas Comportamentais, de apego, relações objetais, gestalt, construtivista e psicanalítica.

Pacientes com problemas caracterológicos e com transtornos de personalidade não respondem totalmente a tratamentos CC tradicionais.

Resistência aos protocolos de tratamento, pouco contato com suas cognições e emoções- evitação cognitiva e afetiva/rigidez caracterologica e do próprio esquema. Os conflitos e problemas apresentados são egossintonicos - centrais a seu sentimento de identidade.

Na tcc a relação paciente-terapeuta não é um foco importante do tratamento e são vistas mais como obstáculos a serem superados. Pacientes dificeis de tratar tiveram relacionamentos pessoais disfuncionais desde cedo e por isso tem dificuldades em estabelecer uma aliança terapêutica funcional. Como as questões interpessoais costumam ser o problema central , a relação terapêutica constitui-se em uma das melhores áreas para se avaliar e tratar esses pacientes .

Falta de discernimento em relação a problemas -alvo nos pacientes com problemas caracterologicos. Apresentam problemas vagos, crônicos e difusos e com pouca qualidade de vida.

Abordagem sistemática. Pode ser breve, de médio ou longo prazo, dependendo do paciente. Ênfase à investigação das origens infantis e adolescentes dos problemas psicológicos, às técnicas emotivas, à relação terapeuta-paciente e aos estilos desadaptativos de enfrentamento. Volta-se ao tratamento dos aspectos caracterologicos e não aos sintomas psiquiátricos agudos. Usando os modelos desenvolvidos pela TE, os pacientes obtem a capacidade de perceber os problemas caracterologicos como egodistonicos e, assim, de se capacitar para abrir mão deles.

Quando os pacientes repetem os padrões disfuncionais baseados em seus esquemas, o terapeuta os confronta, empaticamente, com razões para a mudança e de uma “recuperação parental limitada”

Esquemas: qualquer principio organizativo/tema/padrão amplo que um individuo use para entender a própria experiência de vida e seus relacionamentos, formados em etapas iniciais da vida - infância e adolescência-e elaborado ao longo da vida- através de experiências nocivas repetidas e reforçadas regularmente , constituído por memórias, emoções e sensações corporais e disfuncional em nível significativo- autoderrotistas. .

Nem todos os esquemas fundamentam-se em traumas ou maus tratos. Começam como representações do ambiente da criança baseados na realidade e são ativados na vida adulta por eventos que percebem ( inconscientemente) como semelhantes as experiências iniciais desadaptativas e por isso carregadas com fortes “emoções negativas”: aflição, medo, raiva, vergonha,...(aspas minha). As razões atribuídas pelo paciente para esta dinâmica podem ser equivocadas , mas sua sensação básica sobre o clima emocional e a forma como foi tratado quase sempre é valida

As pessoas se sentem atraídas por eventos que ativam seus esquemas levando-as a recriar, inadvertidamente, quando adultas, as condições iniciais que lhe foram mais prejudiciais. Os esquemas lutam para sobreviver - coerência cognitiva. Embora cause sofrimento é familiar - zona de conforto

O comportamento desadaptativo não pertence ao esquema em si mas desenvolve-se como respostas a um esquema

Resultam de necessidades emocionais não satisfeitas na infância. A TE postula 5: 1)vinculo seguro com outros indivíduos( inclui segurança, estabilidade, cuidado e aceitação); 2) autonomia, competência e senso de identidade; 3) liberdade de expressão, necessidades e emoções validas;4) espontaneidade e lazer e 5) limites realísticos e autocontrole.

Em nosso modelo, os 18 esquemas estão agrupados em 5 categorias amplas de necessidades emocionais não-satisfeitas a que chamamos de “domínios de esquemas”: 1) desconexão & rejeição; 2) autonomia & desempenho prejudicados; 3) limites prejudicados; 4) direcionamento para o outro e 5) supervigilancia & inibição.

Os esquemas desenvolvidos mais cedos e mais fortes geralmente se originam na família nuclear. Esquemas desenvolvidos posteriormente não costumam ser tão impregnado ou tão poderosos

4 tipos de experiências nocivas que estimulam a aquisição de esquemas: 1) frustração nociva das necessidades; 2) traumatização ou vitimização; 3) pais lhe proporcionam em demasia algo que , moderadamente, seria saudável. Demasiada indulgência. Não se atende às necessidades emocionais de autonomia ou limites realistas. Pais exageradamente envolvidos na vida na criança, superprotegendo-a ou dando-lhe liberdade e autonomia sem limites e 4) internalização ou identificação seletiva. Criança identifica-se seletivamente e internaliza pensamentos, sentimentos, experiências e comportamentos dos pais ( “padrão relacional”. Acréscimo meu). Algumas destas identificações e internalizações se tornam esquemas, modos ou estilos de enfrentamento.

Acreditamos que o temperamento determine em parte se um individuo irá se identificar e internalizar as características de uma pessoa importante.

O temperamento emocional é um outro fator importante, além do ambiente remoto da criança, que também cumpre papel fundamental no desenvolvimento de esquemas.

Diferentes temperamentos expõe, de forma seletiva, as crianças a diferentes circunstancias de vida.

A socialiabilidade mostrou-se um traço de destaque em crianças com alta capacidade de recuperação, que prosperam apesar de abusos e negligencia.

Em nossa observação, há possibilidade de um ambiente remoto extremamente favorável ou adverso sobrepujar em muito o temperamento emocional

quinta-feira, 22 de março de 2012

Olá, agradeço a visita e sinta-se bem vind@! 

Minha expectativa é divulgar o paradigma  neurodinâmico, promover um intercâmbio de idéias e pessoas envolvidos com o tema psicoterapia & neurociências e apresentar o meu trabalho, estudos, pesquisas e conhecimento para aqueles que se identificarem com sua proposta.

Eu sou psicólogo com 20 anos de experiência clinica - USU 1987/1992 - dentro do campo das psicoterapias corporais. Minha formação não é convencional pois minha inquietude e inquietações dificultam a emergência de raízes em espaços marcados por relações do tipo guru-discipulo e subjetividade - mercado.

Elas estão basicamente relacionadas a uma perspectiva cientifica- natural e ao materialismo dialético. Acredito em mentes e subjetividades ancoradas no corpo e uma corporeidade ancorada na mente, especificamente no cérebro, dentro de uma unidade somatopsicodinâmica.

Dentro do campo das psicoterapias corporais, especificamente nas psicoterapias reichianas e pós-reichianas, minha atenção se foca na relação com as neurociências e no comprometimento ético de tal conhecimento.

Acredito que este tipo de conhecimento agrega competências técnicas e emocionais fundamentais para a compreensão e manejo de temas tão complexos e fundamentais, como subjetividade e saúde mental, não só para o campo das psicoterapias mas para tod@s aquel@s comprometidos com a vida e com o viver bem. Sim, é possível viver bem.


Obrigado.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

HUMANIDADE EM XEQUE? - Henrique Schützer Del Nero

O campeão mundial de xadrez perde para um computador e a humanidade pensa estar em xeque. Será o xeque-mate? Não, ainda vai demorar algum tempo para que esse risco deva ser levado a sério. O momento é de dirimir dúvidas antropomórficas sobre a emergência de raciocínio e inteligência em máquinas. Para isso, é preciso que entendamos a correta relação entre cérebros e computadores.
A analogia entre o computador Deep Blue e Kasparov é indevida: o primeiro faz milhões de cálculos por segundo, usando uma lógica digital (sim ou não, 0 ou 1); o segundo utiliza uma forma analógica de processamento (todas as gravações possíveis entre um número e o outro, incluindo aí o 0 e o 1).
O processamento analógico somado à simultaneidade de múltiplos canais dota o cérebro de capacidades insuspeitáveis a Deep Blue. O digital, somado à velocidade do chip de sílica, é capaz de nos derrotar no xadrez. Nas metáforas, alegorias, cenários complexos e, sobretudo, na capacidade de engendrar sociedade e moral, ainda não.
Algumas dicotomias são fundamentais para que se entenda a diferença entre o cérebro humano, dotado de mente e personalidade, e o computador Deep Blue. Deep Blue tem um conjunto harmônico de
processadores centrais comandando suas operações; Kasparov não tem qualquer sucedâneo de controlador central. Deep Blue tem memórias com endereços claros, sensíveis à destruição por qualquer curto-circuito; Kasparov tem memórias distribuídas por grande parte de seu cérebro, o que faz com que resista ao envelhecimento sem que com isso se apaguem arquivos inteiros e se percam referências vitais. 
Deep Blue não aprende, não tem infância, não interage com os outros e não descobre a mentira como artificie da separação entre o mundo interior do desejo e o exterior da repressão; Kasparov aprende e se organiza de acordo com a experiência pretérita, sua e de sua cultura. 
Deep Blue opera através de um programa, em que pese programa sofisticado que permite a harmonização sincrônica dos múltiplos processadores (pseudo-noção de processamento paralelo, tecnicamente chamada de processamento cooperativo), mais ainda assim software; Kasparov tem processamento paralelo legítimo, sem controlador central, operando sem software bem delimitado - no cérebro tanto software quanto hardware se mesclam numa só operação de oscilação e sincronização de neurônios.
Só existe mente quando, ao perigo de falhar no cálculo, se acrescenta o perigo de falhar na expectativa depositada sobre si. Essa carga humana, ainda hoje dificilmente reproduzível em máquinas. As emoções e a
vontade, propriedades inimagináveis a Deep Blue, coroam e colorem a nossa espécie. Enquanto a máquina não as tiver será apenas uma traquitana sem inteligência genuína. 
Deep Blue não tem estilo; Kasparov tem estilo;  
Deep Blue não tem humor; Kasparov não voltará a ter tão cedo.
Problema técnico suplementar advém da natureza digital-formal de Deep Blue. Como quase todos os sistema desse tipo, está sujeito à parada (isso é tecnicamente conhecido como problema de indecidibilidade de
gödeliana e parada de uma máquina de Turing, espécie de computador teórico ideal, infinitas vezes superior a Deep Blue) fato que o impedirá de decidir sobre o passo seguinte ou sobre a verdade ou falsidade de uma sentença.  
A consciência humana, ponto nodal da mente que emerge do cérebro, não exibe “parada” diante de determinados problemas em que Deep Blue entraria em looping (vulgo “parafuso”). Isso advém da natureza analógica do processamento cerebral como querem ou talvez - segundo os mais afoitos cientificamente -
de sua natureza quântica e não-algorítmica (isto é, não calçada no seguir regras estritas, bem delimitadas e seqüenciais de operação).
Um computador ou qualquer máquina que um dia seja programada com o código analógico que utilizamos talvez seja capaz de crescer, aprender, inserir-se na comunidade e agir como nós. Para isso a máquina não
será programada nem terá a velocidade do computador da IBM; sua inteligência não será programa que avalie exaustivamente a hipótese já pronta, mas algo capaz de criar teorias a partir de um pouco, testando-as
transformando-as em conhecimento legítimo. 
Um computador que precisa percorrer o planeta inteiro inspecionando cada gato, cortando-o em fatias e
decompondo-o ao limite, nem por isso será capaz de entender a graça e o humor do desenho simples do gato Garfield comedor de lasanhas. Deep Blue dificilmente entende metáforas e nós rapidamente as entendemos.  
Afinal, a mente que surge da comunhão dos neurônios não é substância imaterial, espírito ou alma. É antes de tudo uma propriedade da matéria física cérebro em contato com a linguagem e a cultura.
Dota-se uma máquina do correto código cerebral, fazendo-a interagir dinamicamente com outras, quer na ação pura, quer na ação valorada e prudente, e teremos uma réplica do humano. Porém, não se assustem aqueles que vêem nessa possibilidade o final dos tempos. Não sabemos ainda qual o código analógico que o cérebro utiliza na forja do mental e nem temos máquinas que o repliquem na totalidade. 
A tarefa de estudar esse código, de compreender o surgimento do pensamento, da inteligência, da emoção, da vontade, da memória, criando-lhes análogos artificiais que nos auxiliem em diferentes tarefas é função da ciência cognitiva, super disciplina com quase 50 anos de idade no Primeiro Mundo, mas no Brasil ainda vista com um certo desdém.
Quando não é entendida como um fenômeno biológico localizado no cérebro humano, a mente fica acuada como Kasparov na sexta e última partida da disputa com Deep Blue. Essa incompreensão gera um sem-número de flancos para a proliferação do esoterismo desenfreado, para os manuais de auto-ajuda, para a irracionalidade que campeia e de que se servem os ignorantes e também os arrivistas que vendem bem-estar e salvação para a mente que sofre.
Gera ainda subproduto danoso que é a não aceitação de que a mente, como qualquer função do corpo pode adoecer. Nesse sentido, a figura emblemática de Deep Blue, antes de sitiar a condição humana, pode resgatá-la do desvario pseudo místico, recolocando a mente no cérebro e o conhecimento sobre eles no
devido lugar, menos devassado aos “achismos” dos esotéricos afoitos, encantados com barroquismos lingüísticos pseudo-significativos.
O xeque imposto à condição humana com conseqüência mais danosa que o desconhecimento da natureza cerebral da mente normal e desviada é a perda de valores claros na relações sociais. Sabe-se hoje que a ética e a solidariedade, antes de imposições externas, sociais ou religiosas, são atributos biológicos. Os macacos as têm; também animais inferiores. Computadores, por ora, nem sequer a esboçam, demonstração clara do quanto seus projetistas pretendem resolver problemas, porém nem de longe semelhantes aos dilemas
humanos. 
Será que nós, que somos o ponto apical da biologia do ser vivo, vamos deixar que o sistema econômico e político dos dia de hoje nos faça pensar que a mente é apenas algo forjado para dissimular, esconder, auto-emancipar, esquecendo-nos da solidariedade e respeito com o semelhante?
A mente e a humanidade estão em xeque se não entendermos que o cérebro cria a consciência individual e a coletiva (o computador joga xadrez mas não há ninguém que lhe ouse imputar a consciência ). Da interação entre as consciências pode surgir uma comunidade de deveres e direitos pleno, com alguma justiça que preserve a todos. Do contrário, serão a barbárie e a aniquilação. 
Não estamos em xeque pela máquina digital. Seremos um dia replicados em máquinas e espero que elas não pratique o jogo no qual temos demonstrado habilidade infinita: a hipocrisia e o descaso com o semelhante que
anda à mingua desempregado e excluído. 
Mas é preciso cuidado, pois os computadores que surgirem dessa época de individualismo desenfreado
poderão também saber jogar pôquer - blefando inclusive - e o jogo poderá ser desigual. Podem surgir tiranos nunca dantes vistos entre as máquinas, tais como já vimos surgir entre os seres humanos.
O problema deste final de milênio não reside na replicação e execução de funções mentais por computadores, fato que cedo ou tarde ocorrerá.
Reside, outrossim, no modelo de ser humano e sociedade com que
recepcionaremos essa nova classe artificial de convivas do circo social.


http://www.din.uem.br/~ia/maquinas/henrique.htm




A MENTE SITIADA- Henrique Schützer Del Nero (IEA-USP)

Uma psicologia séria, em tempos de mercado soberano, pode tornar-se refém de um dilema: adular o público, ainda
que com teorias forçadas, às vezes mentirosas, ou elevar o nível, correndo o risco de não ser ouvida. O consumidor,
esse tiranete que escolhe o que lhe apraz, agora é fórum de decisão sobre o rigor e a precisão da informação. A
satisfação do cliente pode em certos casos levar à adulteração ou à maquiagem do produto. Adulteração, quando se
vendem inverdades sob a aura de ciência. Maquiagem, quando se vende o óbvio, travestido de novidade de última
geração. Ou bem entendemos que a lógica do mercado admite até mesmo a mentira, ou reformulamos alguns dogmas
acerca do compromisso com formação e educação. Talvez tudo não passe de efeito colateral da sociedade livre:
pluralismo ou tentativa de conciliar, sob a aura de igualdade, o inconciliável.
A mente que se vende por ai lembra televisão sem circuito e com duendes mágicos que protagonizam os espetáculos.
Essa mente parece não ter cérebro a lhe dar suporte - pelo menos cérebro como entende a ciência e não como
propalam seus mistificadores -, não adoece e pode o que quiser, desde que mentalize, tome vitaminas e consuma
baboseiras. Uma ciência do mental pode, por ora, afirmar que há um recrutamento dinâmico de populações de células
- neurônios - que, dada a complexidade do processamento dos sinais elétricos, sincronizam em diferentes freqüências.
Tal fosse o comitê de uma empresa, a mente não é um departamento alojado neste ou naquele pedaço do cérebro; é um modo de reunião, em diferentes locais, que valoriza a regra de convocação - código neural - e não qualquer elemento que tivesse assento estável no comitê. Por isso é cérebro e não é, na medida em que se podem substituir os integrantes de cada comissão, desde que respeitada a lógica da convocação. Sem isso não haveria reabilitação neurológica epsiquiátrica. Tampouco haveria distúrbio ou lógica.
As empresas também precisam de saúde mental? Claro, perdem-se bilhões de dólares por ano somente com depressão,
sobretudo devido à perda de produtividade. Mas em lugar de chamar o especialista, compra-se um modismo para
"levantar o moral do pessoal". Seria bom, se não fosse péssimo. Bom, porque não faz mal dizer obviedades. Mal,
porque faz muito mal dizer obviedades.
A mente é um produto do cérebro. São bilhões de neurônios e trilhões de conexões. Vai daí que deve apresentar
algumas limitações e algumas desregulagens. Seria bom dizer que a mente é fantástica, mas é muito ruim dizer que
pode o que quiser. Seria bom dizer que presume um equilíbrio entre o pensamento, a emoção e a vontade, mas é muito ruim batizar equilíbrio, harmonia e educação como “inteligência emocional”. Faz mal dizer obviedades porque a tirania se impõe não pelo que afirma, mas pelo que omite.
Ciência séria quase não dá manchete, mas o público a venera quando liga o celular ou quando experimenta o mictório
com descarga acionada por célula fotoelétrica. Ama-se a tecnologia, braço menos nobre da ciência. Menos nobre
porque comprometido com o imediato, com o prático, com o lucro e com o retorno fácil. Ciência é estrutura;
tecnologia é conjuntura. Mas numa sociedade de agrado ao consumidor a conjuntura precede e determina a estrutura.
Falar de uma mente que permanece refém do discurso do espírito nos últimos séculos, situá-la no cérebro, dizer que
tem limites, que pode adoecer, isso não faz sucesso. Ao contrário, recheá-la de misticismo, duendes, anjos, esoterismo,
vitaminas, vida natural, amor (embora não ao próximo, nem aos excluídos), vidas passadas e outras tantas coisas
vende aos montes.
Tiranizados por alguns sábios do mercado livre e da sabedoria, resta-nos, para falar da mente, de seu sítio cerebral e
de seu poder, limites, anomalia e remédio, mantê-la trancada na pequena reunião de iniciados acadêmicos. Pena. Com
isso perdem o público que não se submete a abandonar velhos preconceitos; a imprensa que apenas informa,
atravessadora passiva de informação que deveria interpretar e discutir; a sociedade, enfim, que poderia aprender
algumas lições.
Primeira lição: desconfie dos milagres que se apregoam acerca da mente e do cérebro. Embora tenhamos ido longe,
nossa ignorância científica é maior do que pensam aqueles que se encantam com qualquer best-seller. Sabe-se muito
mais do que a mente não é capaz que daquilo que é capaz. Quem conhece boa ciência sabe que é melhor procurar cisne preto para derrubar a afirmação de que todos os cisnes são brancos. Quem se encanta com truísmos vive
exclamando e cortejando gente que diz que cisnes são brancos e cada ano mostra um para confirmar a teoria.
Segunda lição: entender a relação da mente com o cérebro, a complexa articulação que propiciou que surgissem
linguagem, sociedade, sujeito público e privado e, no cume disso tudo, moral, requer caminho tortuoso.
Terceira lição: a satisfação não é o melhor critério para testar teorias, como não o é mostrar o cisne branco. Quando
lançamos hipóteses científicas importa tanto o que se afirma quanto o que se nega, e em que condições. Uma mente
ilimitada não é mente, é mágica.
Quarta lição: se vamos formar alguém e ao mesmo tempo ter nesse alguém um julgador impiedoso, balizando nossa
atitude pela sua satisfação, então não eduque mais os filhos, não reprove mais o mau aluno e, por favor, somente dê
ouvidos à vizinha e ao clamor das ruas, ainda que esse clamor peça pela quiromante, pela caça ao boi gordo no pasto e
pela volta da ditadura.
Quinta lição: afora distúrbios mentais que devem ser precocemente diagnosticados e tratados, não há nenhum
conhecimento sólido sobre cérebro e mente que possa ser vendido na porta da empresa, da escola ou da sua casa, sem
que haja uma forte dose de oportunismo em jogo.
Desconfie quando alguém falar da mente e não citar, ato contínuo, sua natureza cerebral, suas limitações como
qualquer órgão físico, sua capacidade de comunicação e, pasme, o fato de estar no cérebro animal a origem funcional
do comportamento ético, não sendo mero fruto de época, "coisa de nossos avós" diria o enricado sem escrúpulos.
Alguns autores bem sucedidos, disputados a tapa pelas editoras e por uma mídia nem sempre coerente, gostam de falar
de uma mente que é apanágio de sucesso pessoal. Outros poucos, menos lidos, mais áridos, procuram lembrar que a
mente nasceu de um cérebro que está num animal mais frágil de corpo que a raposa e o tubarão, criança pequena de
tão longa gestação e infância, mas que pela razão e pela reunião solidária pode fazer vingar a espécie humana.

HENRIQUE SCHÜTZER DEL NERO é médico psiquiatra formado pela USP. Bacharel e Mestre em Filosofia pela
USP. Doutorando do Depto.de Engenharia Eletrônica da POLI-USP. Coordenador do Grupo de Ciência Cognitiva do
Instituto de Estudos Avançados da USP.Atividade em consultório privado de psiquiatria e psicoterapia há 13 anos.
Regularmente faz palastras e escreve textos sobre ansiedade e distúrbios emocionais para os alunos do Anglo
Vestibulares. É autor de O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano", com lançamento
previsto para março pela Collegium Cognitio e de O Equilíbrio Necessário, Editora Scippione, com lançamento
previsto para o 2osemestre. Tem mais de 35 trabalhos publicados em congressos e revistas técnicas nacionais e
estrangeiras sobre modelos interdisciplinares de mente e cérebro

http://www.lsi.usp.br/~hdelnero/Gazeta1.html[27/11/2009 17:52:47]

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

LINGUAGEM E CORPOREIDADE: UMA PERSPECTIVA NEURODINÂMICA - José Ignácio Tavares Xavier


O paradigma conexionista atualmente em desenvolvimento na linguística, na filosofia,
na psicologia e nas neurociências permite a recuperação de um aspecto-chave da produção
teórica de Wilhelm Reich no seu período pré-orgonômico. O autor propõe uma releitura do
conceito de unidade somatopsíquica valendo-se das noções de esquema corporal e de imagem
corporal de Head a partir da articulação destes aspectos com o arco intencional de MerleauPonty (Gallagher, 1998), o que desemboca num modelo de produção da singularidade pessoal
de onde derivam a constituição da mente e da linguagem conforme o paradigma conexionista
apresentado por Lakoff e Johnson (1980). O resultado parece corroborar o acerto dos
desenvolvimentos reichianos relativamente às complexas interrelações entre corporeidade e
linguagem numa perspectiva monista. Futuras modificações na teoria e na técnica das
psicoterapias corporais poderão emergir a partir desse novo paradigma.

Link: http://www.ufrrj.br/seminariopsi/2010/boletim2010-1/xavier.pdf

Processos emergentes. Causalidade ascendente. Causalidade descendente. (até pag.292).

A urgência de uma distinção entre as formas afetiva e cognitiva da consciência reclamada por Panksepp é importante não apenas para que a organização do SNC ganhe sentido mas, principalmente, para que a compreensão dos fundamentos neurodinamicos da psicopatologia possa produzir novos e consistentes conhecimentos sobre a emergência dos distúrbios mentais e que novas estratégias de tratamento - tanto farmacológicas como psicoterápicas - possam ser disponibilizadas


Thompson e Varela > propõe uma via causal de mão dupla entre os estados de consciência encarnados e a atividade local dos agrupamentos neuronais > os processos subjacentes ao campo da consciência expressam a atividade integrada das redes neurais de grande escala

O mecanismo mais plausível para a integração de grande escala consiste na formação de elos neurodinamicos mediados pela sincronização fugaz de múltiplas faixas de freqüência > presença de padrões de atividade neural na faixa theta-gama - 6 à 80Hz > a sincronia é entendida como um processo de fechamento de fase > duas escalas deste fenômeno podem ser identificadas: 1. fechamento de fase de longo alcance - rastreadas durante o engajamento em atividades cognitivas e expressam-se como atividade gama que emerge entre 200 a 260mseg após a apresentação do estimulo - e 2. fechamento de fase de curto alcance ( ligadura perceptual/ perceptual binding ) > o estudo de Rodriguez observou que o fechamento de fase é seguido de um período de perda maciça da sincronização neural, o que segundo Thompson e Varela “pode refletir um processo de dessincronização ativa, necessário à transição entre diferentes arranjos neurais sincrônicos” que caracteriza o fluxo da variação da atividade cognitiva em termos de padrão neurais de larga escala > relação com o “caso Miriam”

Koppel > os processos acima descritos constituem o paradigma exemplar da auto-organização em termos de redes de osciladores não lineares > os processos emergentes constituem “comportamentos coletivos de grandes conjuntos (neuronais) nos quais a interação dos feedbacks positivos e negativos dão origem a conseqüências desproporcionais (não-lineares) > podem se dar de 2 modos distintos, porém simultâneos e complementares:

Causalidade ascendente / L ®G / botton- up : emergem como resultado da atividade local e apresentam suas próprias características, duração temporal e domínios de interação;

Causalidade descendente / G ®L / top-down : características locais do sistema governam ou constrangem as interações locais.


Os efeitos descendentes apresentam uma forma diferente dos efeitos ascendentes, manifestando-se tipicamente, através de modificações dos parâmetros de controle e das condições de fronteira

PN > o efeito-moldura emergente da instauração dos traços de caráter constitui um evento de tipo descendente - ancorado nos sistemas de memórias de procedimento - que afeta o comportamento coletivo da rede de neurônios na medida em que o conjunto da estrutura caracterologica engendra parâmetros de ordem que restringem a faixa de flutuação dos componentes individuais da rede > entretanto, o comportamento dos componentes individuais gera e sustenta parâmetros de ordem, o que configura uma interpenetração dialética entre os processos ascendentes e descendentes que desemboca numa causalidade de tipo circular, porém assimetrica

MeSAs > partiria de um acionamento periférico que instiga a oscilação de parâmetros de ordem locais, cujo efeito se espraia pela rede produzindo uma variação nas condições de causalidade ascendente

As interações verbais e não-verbais entre a dupla terapeuta- paciente constituiriam a fração de causalidade descendente na neurodinamica do processo terapêutico

Dimensões da corporeidade (embodiment) > os 3 ciclos de operação: 1.regulação organismica, 2.acoplamento sensório-motor “o que o organismo sente é uma função do modo como ele se move, e o modo como ele se move é uma função daquilo que ele sente” (Thompson e Varella) e 3. Interação intersubjetiva > são simultâneos, mutuamente infiltrados e se apresentam em constante flutuação de parâmetros. Entretanto, eles também exibem uma certa estabilidade de fundo no nosso modo de operação, o que permite que nos reconheçamos e que sejamos reconhecidos pelos demais. Esta estabilidade nos é conferida em parte pela dotação genética e em parte pelas memórias das experiências ambientais precoces

A organização subjetiva do adulto emerge das memórias de procedimento esculpidas ao longo das interações ambientais infantis primitivas, e os acoplamentos sensoriomotores com o ambiente afetam tanto os processos emocionais como os conteúdos cognitivos

PN & Reich > conteúdo histórico da psiconeurose acoplado a ansiedade atual > o conteúdo psíquico expressaria a atividade em curso nas áreas cognitivas superiores; o que afeta os estados do corpo e limita os parâmetros de flutuação dos 3 ciclos da corporeidade ( G®L)> do ponto de vista emocional, a ansiedade atual emerge da atividade sustentada dos circuitos emocionais subcorticais; o que compele os conteúdos cognitivos a gravitar em torno a um dado pano de fundo emocional (L®G) > tem então uma condição de causalidade circular, porem assimétrica, ou causalidade recíproca nos termos de Thompson e Varella. > no plano individual, a barreira de contato erigida pela estrutura manifesta-se por um padrão de contato atencional com a realidade pautado por padrões resistentes das experiências traumáticas no passado (contato substitutivo). Assim,estados sustentados de pequenos traumas cotidianos cronificados/acumulados parecem estar na origem da formação da couraça > figura 5.3



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sistemas Emocionais. O medo, a couraça e o sentido de Si. (pag 240-260)

Segundo Darwin, os 1ºs esforços na na direção do estudo das emoções forma feitos por Charles Bell em sua Anatomia e Filosofia da Expressão


Darwin > aponta para a universalidade das expressões emocionais e anuncia os 3 princípios fundamentais responsáveis pelas expressões emocionais e gestos involuntários nos homens e animais > 1º - força do habito; 2º - principio da antítese e 3º - ação direta do sistema nervoso.

Até a década de 60 as expressões faciais eram consideradas meros signos arbitrários, que a criança aprendia. Conforme suas caretas fossem recompensadas ou punidas ( PINKER 1997p.365) > Paul Eckman apresenta os 1ºs resultados de seus estudos sobre a universalidade das expressões emocionais > Eibl-Eibesfeldt, da década seguinte, demonstra a existência de universais das expressões emocionais em crianças cegas e surdas desde o nascimento, evidenciando a existência de uma plataforma neurobiológica das emoções independente da experiência.

Tanto a tradição behaviorista como a tradição metapsicológica freudiana dominaram o sec.XX, eclipsando a perspectiva oferecida pelas teses reichianas `a compreensão do sofrimento subjetivo > sustentaram uma atitude que colocava os temas subjetivos fora do alcance do inquérito cientifico, ao contrario da posição adotada por Reich

Hipótese reichiana > sugeria que os agenciamentos corporais e os regramentos ambientais das emoções engendravam um modelo prevalente de operação do sujeito psíquico que embotava sua capacidade criativa e tornava-o dócil e adaptado às exigências de uma sociedade organizada de modo contrario aos seus legítimos interesses biológicos e sociais > levantava questões filosóficas e sociais de difícil resolução empírica : problema mente-corpo, questionamento dos princípios e valores educacionais do paradigma pedagógico vigente e as distorções impostas pelas relações de poder econômico sobre a vida amorosa e a organização familiar, sobre a formação de valores éticos, sobre a vida sexual das novas gerações e sobre a organização geral da sociedade.

PN > Reich toma o bonde errado da orgonomia sem cérebro > neurociência contemporânea vem pavimentando o caminho para as concepções que contemplam o papel do corpo na produção das emoções e da consciência, remetendo a sua regulação ao SNC.

Dificuldade na construção de uma classificação consensual e discriminada entre estados emocionais primários ( invariantes neurobiológicos) e secundários ( combinações das emoções primarias que apresenta variações conforme a cultura ).

Afinal, o que é uma emoção?

LENT > “é uma experiência subjetiva acompanhada de manifestações fisiológicas detectáveis”

DAMASIO > “conjunto complexos de reações químicas e neurais formando um padrão(neural)” > exercem algum tipo de papel regulador > ligados à experiência de Si que se seguem aos eventos desencadeadores de emoções > elo de ligação entre as experiências vividas pelo o organismo e o sentido de Si > os estados de humor expressam a atividade dos sentimentos de fundo e encontram-se na origem do sentido de Si > estados do corpo que ocorrem entre as emoções e que “constituem o sentimento da própria vida, a sensação de existir” > essencial para a conceituação de proto-self e seu papel na produção da consciência central

PANKSEPP > “Quando poderosas ondas de afeto suplantam nosso sentido de nós mesmos no mundo, dizemos que estamos experimentando uma emoção” > leva em conta as suas funções adaptativas e integrativas em termos do SNC, superando as meras descrições de suas manifestações exteriores ou limitando as suas causas a eventos ambientais

REICH > as emoções- em especial o erotismo genital com sentimento amoroso ou potencia orgástica, isto é: o amor - apresentam uma propriedade adicional: a de fazer com que a auto-regulação da economia se mantenha em níveis de integridade para a saúde física e mental do individuo.

NAVARRO > revela a importância do substrato neurobiológico para a clinica corpora lista ao observar que as emoções constituem um fenômeno vital de respostas a estímulos externos e/ou internos





Corpo, emoções e consciência constituem uma espécie de unidade de ressonância que ancora o sentido de Si como eixo ordenador da mandala da experiência

Em condições normais a atividade cognitiva prepondera sobre o pano de fundo emocional, mas, diante de acontecimentos que provocam estados emocionais “cheios”, a atividade subcortical assume a hegemonia e os conteúdos cognitivos ficam subsumidos ao panorama emocional em vigor

A definição utilitária das emoções como eventos desencadeados por acontecimentos ambientais e cuja finalidade é habilitar o organismo a reagir adequadamente às injunções ambientais mostra-se satisfatória apenas enquanto um descritor evolucionário para as emoções, não dando conta de aspectos importantes relativos a implicação dos sistemas emocionais na produção da subjetividade

PN > a perspectiva neuro- evolucionaria que emerge do atual debate neurobiológico permite ( sem que se incorra em reducionismo neurobiológico, como poderia parecer à primeira vista) a superação das interdições colocadas tanto pelo behaviorismo como pelo paradigma metapsicológico quanto ao papel do corpo e das emoções e das emoções na produção da subjetividade > reputa as emoções como uma extensão refinada dos comportamentos instintivos básicos, produzida ao longo da evolução filogenética da espécie habilitando os mamíferos a uma maior flexibilidade comportamental, o que abarca o cuidado com a prole e a possibilidade de experimentar subjetivamente estados emocionais > relação entre sentimentos de fundo e a abordagem reichiana que procura, através da fenomenologia somática dos traços de caráter, detectar a condição de base subjacente à neurose > considera a estrutura de caráter como o conjunto das memórias operacionais inconscientes dos acoplamentos infantis entre os impulsos e o ambiente > corresponde em grande medida ao que Damasio denomina de memória autobiográfica, com a diferença que o efeito-moldura da estrutura caracterológica se expressa em termos de memórias não declaratórias

Os processos emocionais básicos podem ser estudados em animais de laboratório e, dada a grande homologia interespécies observada nos cérebros mamíferos, infere-se que as emoções e os sentimentos ( embora não seus correlatos cognitivos) emergem extensivamente dos processos neurais subcorticais

MacLean > hipotetizou 3 domínios distintos na constituição do sistema nervoso humano > cérebro tri-uno constituído por estratos responsáveis pelas ações instintivas (cérebro reptiliano), pela produção de emoções (cérebro límbico) e pelas atividades cognitivas de ordem superior (neocórtex) > revela-se atualmente superado pelo modelo de sistemas dinâmicos complexos não lineares das operações da rede neural >

Recodificação: a experiência dos afetos estaria na dependência de algum tipo de recodificação ( a re-representação defendida pela psicanálise, como se viu em Garcia-Roza) da informação instintual primitiva nas regiões cognitivas superiores, em particular naquelas de exclusividade humana x top down: perspectiva neuro-evolucionária ( LeDoux e Rolls); responde pela singularidade da experiência humana; quem cria as emoções é a evolução e não o aprendizado; mas os conteúdos cognitivos que as acompanham dependem da atividade de áreas superiores do cérebro exclusivamente humanas - as extensas áreas do córtex frontal dorso-lateral que respondem pela memória de trabalho de ordem superior ou as funções de re-representação simbólica e as capacidades lingüísticas do cérebro humano - e encontram-se, portanto, na dependência das experiências ambientais, aí incluídas as experiências ou atos de linguagem.

PN > os mandatos regulatórios do comportamento social incidem sobre a plataforma biológica emocional filogeneticamente estabelecida formando as memórias operacionais / traços de caráter que transtornam o funcionamento da rede complexa constituída pelo continuum funcional entre os módulos cognitivos corticais, as alças de mão dupla córtico-subcórtico-corticais e os SEOs ( sistemas emocionais subcorticais com projeções às áreas corticais superiores cujos padrões de coerência respondem pela experiência comportamental e subjetiva de diferentes estados emocionais) de inscrição primariamente subcortical >

Reich e Navarro consideram o medo - força impulsional - consciente ou inconsciente da punição como a emoção fundadora das defesas estruturais > um alinhamento com a concepção científico-natural na base dos dinamismos defensivos da barreira narcísica, erigida às custas dos traços de caráter > ênfase no medo em face de sua centralidade na produção da estrutura caracterológica > esta aposta foi abandonada por ambos em favor de um paradigma energético de viés genérico e reducionista, que esvazia a possibilidade de uma reflexão mais consistente sobre o complexo e multifacetado efeito clinico introduzido pela experiência corporal na clinica da subjetividade.

Panksepp > estudos de estimulação cerebral há tempos sugerem a existência de um sistema operacional -conjunto de estruturas e rotas cerebrais diversas operando num padrão coerente- para o medo > os diversos SEOs identificados em modelos animais correspondem satisfatoriamente ao que se conhece genericamente como sistemas emocionais básicos humanos ou affect programs > “podem atuar, em termos de desenvolvimento, como sistemas atiradores dinâmicos, que se tornam maiores, mais complexos e mais sofisticados à medida que atraem diversas estruturas cognitivas para as suas esferas de influencia” > “quanto maior a esfera de influencia das emoções positivas, mais se espera que a criança se torne um membro socialmente ativo e produtivo”